Andre Barreto - Dezembro de 2011.
Vipashyana por Shambhala.
Sessão um.
No nível 3 trabalhamos com a técnica Mindfulness (Shamatha), que quer dizer aquietar a mente. Desenvolvemos a paz interior. Shamatha diminui aos poucos a atividade da mente. Limita os pontos de referência que a mente tem em seu estado cotidiano. Aos poucos, a mente fica menos e menos agitada.
Shamatha melhora também a acuidade e precisão. De um modo geral Shamatha desenvolve na mente as 3 qualidades abaixo:
1. A mente fica mais estável (Ela faz o que você manda, e não o que ela quer que você faça).
2 - A mente fica mais clara.
3 - A mente fica mais forte ( Consegue prestar mais atenção e por mais tempo).
Neste nível 4, deixamos Shamatha de lado e exploramos a técnica conhecida como Awareness, ou Vipashyana ou Insight meditation. A meta aqui é a visão clara ou perfeita. No Tibet, Vipashyana significa a “chama que queima do combustível da mente conceitual”. Ela é como uma chama. Queima o “combustivel” do ego. Mina os pontos de referência do ego. Aquilo que o ego usa para se definir, localizar, se acalmar, etc. Como por exemplo: Eu e meu inimigo. Eu e a minha raiva. Eu e meu amigo, etc.
Vipashyana desenvolve um intelecto preciso , afiado, cheio de discernimento. Uma consciência discriminadora. Enquanto Mindfulness desenvolve a paz e clareza, Vipashyana traz insight, a intuição, a habilidade de “saber” as coisas. Um saber baseado não no acúmulo de informações, mas ao observar como as coisas se relacionam entre si.
Para praticar, devemos colocar nossa atenção nas respostas que temos para as coisas. Perceber os sentimentos de repulsa ou atração que direcionamos a tudo. Perceber a atmosfera da mente. Dos pensamentos, das emoções, etc. Ao abordar a respiração, não ficamos apenas percebendo - a com clareza, mas procuramos estar conscientes da respiração.
Nada deve ser rejeitado da consciência. Você não diz: “Estou consciente disso, mas gostaria de estar consciente daquilo”. A própria noção de esforço muda com a aplicação da técnica.
Vipashyana possui oito atributos que serão ensinados depois, ao longo do processo Shambhala.
Para um melhor esclarecimento, seguem algumas diferenças entre Shamatha e Vipashyana.
Em Shamatha, trazemos constantemente nossa atenção de volta a respiração. Como na conhecida imagem hindu do elefante, estamos constantemente recolocando a mente no caminho correto.
Em Vipashyana esta imagem muda: O elefante é que está carregando você. Ou seja: Não importa o que aparece na sua mente. Bonito, feio, agradável ou doloroso. Você simplesmente coloca sua atenção sobre aquilo.
Não há uma meta a ser alcançada. Não estamos indo a lugar nenhum. Não estamos tentando alcançar nada. Ficamos completamente contente apenas fazendo isso.
Alcançar isso se torna possivel por causa de uma brecha em nossa mente. Essa brecha está acontecendo o tempo inteiro. Existe uma Mente em nossa mente que esta ali antes de você existir. É ali onde ocorre a percepção pura das coisas. Por cima da brecha, sobre ela criamos o mundo, os conceitos. Vipashyana percebe a brecha e tudo o que foi construido sobre a brecha (nosso mundo construído).
Vipashyana, portanto, convida - nos a experimentar a percepção pura dentro de nossas vidas.
Descrição da técnica.
Olhos:
Olhar diretamente em frente (ao invés de repousar à frente. como em Shamatha). Vai e volta. Quando a técnica nova o exaurir, retorne para a técnica de Shamatha.
Respiração:
Quando expirar, expandir sua consciência para fora e ocupar todo o espaço. Irradiar para fora, ocupando o espaço em volta de você. Todos os sentidos estão incluídos na prática.
Primeiro tem-se a experiência de um frescor na pele. Fica-se consciente da experiência direta. Em seguida experimenta -se o sentimento, o conceito.
Ficar mais atento durante a expiração. Sua mente - consciência literalmente se expande pelo espaço.
Se voce perceber a si mesmo pensando sobre a pratica (coisas como Será que isso está certo?), este próprio pensamento se torna o objeto onde você colocará sua atenção. Perceba a sua discursividade do ponto de vista da consciência. Voce não deve cortar e voltar para a respiração, como em Shamatha. Você vai contemplar aquilo que está sendo observado. É diferente de estar absorto no pensamento. O pensamento é mais um objeto observado, ele não é você.
Procure perceber em especial os sentimentos de atração, repulsão e de indiferença. Logo após isso, perceba como formamos o conceito daquilo. Perceba esse processo acontecendo na sua frente. É tudo muito rápido. A técnica reduz a velocidade da realidade e a consciência passa a ver claramente isso. No estado normal só captamos o conceito final. Mas, como vimos, o conceito vem depois da experiencia direta, e depois da sensação básica (atração/repulsão).
Ao observar um sentimento/sensação, podemos nos perguntar: Qual é a textura do sentimento? Ele coça? É frio? É áspero? Macio? Parece uma lâmina?
Ao redor do sentimento, como é a atmosfera em volta?
Use seu próprio julgamento para usar essa técnica. Às vezes precisa esforço, às vezes voltar para a respiração.
Quando baixar a intensidade da experiência ou perceber -se cansado, volte para a técnica de Mindfulness.
Lembre -se: não estamos tentando mudar nada. Em Vipashyana, toda a experiência que temos trabalha para nos despertar.
Praticando.
Irradie -se através da expiração por toda a sala. Ocupe com a mente e a intenção todo o espaço ao seu redor.
Siga os três passos descritos abaixo.
1 - desperte com um toque leve. Encontre um balanço entre a precisao da irradiação e um sentimento de liberdade completa. Ao se sentar, conecte-se com a postura, respiração e a técnica de rotular (nomear) o que aparece. Quando conseguir estabelecer essa conexão, levante os olhos e mire para frente. Veja o sentimento de todo o ambiente. A sua respiracao está acontecendo nesse espaço, nos 360 graus ao redor. A mente sente o espaço. Permite que as experiências venham e vão. Não retenha, nao alimente, nao faça nada com a experiência. Desenvolva uma atencão nua/vazia (bare).
2 - Desenvolva um
sentido de não reacão, de aqui e agora, de novo e de novo. E de novo...
Do ponto de vista da
consciência, nao faz qualquer diferença o que está acontecendo. Não existe
nenhuma necessidade de um diálogo consigo mesmo. Não importa, realmente. Trata
-se de um conceito bastante radical para a mente ocidental apreender. Vai demorar um pouco.
Cada coisa que você
vivencia apenas o relembra de estar consciente, aqui e agora.
3 - Ande através do
espaco da sua mente. Vá e volte. Divirta -se.
Com a prática observa
-se o afiamento do intelecto mais do que da intuição. Mas a intuição estará
sendo refinada também.
Sessão dois.
Repousamos nossa
mente no conceito, usualmente. Mesmo que isto nos cause sofrimento. É uma
referência e um hábito. Quanto mais sólidos os pontos de referência
conceituais, mais densa fica a mente. Assim criamos um mundo claustrofóbico; Os
espaços onde as guerras acontecem.
Durante a prática
quando o diálogo interno começar a ganhar força é a hora de abaixar o olhar,
voltar a rotular os pensamentos. Voltar para Mindfulness.
Em Mindfulness temos
muitos pontos de referência. Vipashyana dá um passo além e usa a clareza de
Mindfulness para queimar os próprios pontos de referência.
Com a prática os
sentidos começam a se misturar com sua consciência.
No nivel três de
Shambhala, 25% da atenção ficava na respiração. E 75% nas percepções. Isso
permitiu naquele momento que outros objetos aparececem na sua prática. Embora
ainda bastante focado na respiração, o nível três expandiu sua mente e convidou
os objetos para que emergissem. O nivel três foi uma plataforma para se
alcançar o nivel quatro: Vipashyana.
O mesmo acontece ao
se mover entre o nível quatro para o nível cinco. A diferença entre a meditação
e a pós meditação começa a se dissolver um pouco. Começa -se a fazer a prática
quando se está no cotidiano. Acontecem uns flashs. A prática permite que
aconteça. Flashs começam a acontecer depois da prática da meditacao sentada.
Tem um jeito de estimular isso no cotidiano.Você pode dar um flash e se
expandir por todo o ambiente. Incluir um espaço maior. Na hora do almoço.
Sente-se um pouco estranho, mas não importa. Você está expandindo sua
consciência para incluir um
espaço maior.
Sessão três.
Consciência
panorâmica. O que acontece quando sua mente desperta.
São três os atributos
da consciência panorâmica: Comunicação, inquisitividade investigativa e esforço
de paciência. Vamos passar por cada um deles.
1 - Comunicação.
Passamos a nos
comunicar não só com as pessoas, mas com tudo o que está a nossa volta, como
num tipo de conexão sutil.
Conectamo - nos ao
mundo como ele é realmente. Com o mundo que você vê, sente, toca, das relações
entre as pessoas e da sua mente.
Quando temos esta
percepção mais clara do mundo ele pode parecer um pouco estranho. Não o
sentimos mais da forma como o sentíamos antes. Podemos por exemplo responder a
uma situacao e questionar a nossa reação. Alguém te diz algo e você fica
arrasado. Sua percepcão fica mais acurada e menos distorcida pelas suas
projeções.
Nao existe
infelizmente um jeito padronizado de como o mundo vai responder a você.
Vamos analisar agora
a diferença entre ver claramente e ver através de nossas interpretacões ou
pontos de referência.
O Dr. Jeremy Harold
escreveu sobre esta habilidade de ver com clareza em seu livro "O mundo
sagrado".
O mundo pode aparecer
com bordas mais pontudas e afiadas. Ao mesmo tempo mais brilhante, intenso. A
negatividade fica mais clara e o brilho mais intenso.
Desenvolvemos um
maior respeito pelo mundo ao nosso redor. Desenvolvemos também uma elegância
inerente. As coisas aparecem a você como conectadas entre si. E esse respeito
nos ajuda a entender e aprender novas coisas.
Podemos falar em três
categorias de respeito pelo mundo: corpo, fala e mente.
Ou externo, interno e sagrado.
Corpo/externo:
Desenvolvemos uma forma natural de lidar com o ambiente. Lidamos melhor com as
vestimentas. Ficamos cientes do relacionamento entre os objetos.
Começamos a perceber
a conexão entre como você organiza a mesa, a roupa, etc.
Fala/Interno- Dizemos
as coisas de forma acurada , verdadeira e clara. Nao se trata de sair por ai
dizendo a verdade para as pessoas. Nao se trata de despejar sua opinião sobre o
mundo.
A gente começa a não
ter vergonha de ser quem a gente é. Expressamo -nos genuinamente. Nao se trata
de uma mudança em sua atitude com o mundo. Sua consciência e sua clareza fazem
com que você tenha respeito sobre quem voce é.
Isto ocorre com base
na apreciacao que temos sobre quem a gente é.
Desafiamos nossos
padroes de auto - engano, ou pequenos jogos que jogamos com a gente mesmo.
Dizemos a nós mesmos: "É assim que eu sou, é assim como eu funciono. Não
consigo mudar". Esse jogo não é absolutamente necessário. Trata -se apenas
de um jeito de cobrir nosso medo ou nossa falta de autoconfiança. Passamos a
ter mais clareza quando isso acontece e sabemos intuitivamente que tais jogos
não são tão relevantes. Passamos a confiar em um único ponto de referência, que
é a Bondade Fundamental- Ou: a natureza básica da nossa mente. Os outros pontos
de referência da mente perdem aos poucos a sua importância. Também ficamos
muito conscientes destes pontos.
Tudo no mundo: as
neuroses, uma flor, seu chefe, um bom vinho, um filme. Tudo passa a nos
despertar. Todas as experiências se tornan objetos de percepção, ao invés de
ser algo no qual nos prendemos ou nos perdemos. Passam a ser gatilhos. Quando
nos conectamos ao mundo dessa forma temos um tipo de experiência de algo que é
totalmente não condicionado, sem limite de energia. Um banco infinito de
energia(Cavalo de vento - Banco infinito de energia - Seria o Intento do qual os Toltecas falavam?). Podemos entrar em contato com esse banco de energia da Bondade
Fundamental. Ela é muito poderosa. Está sempre lá. Nunca diminui ou fica
indisponível. Fazemos um esforço consciente para não ser afetado por ela (Um
esforço habitual). Ela pode, por outro lado, ser invocada.
Quando acessamos este
nível, irradiamo - la para fora como confiança incondicional. Uma confiança
completa em você mesmo. Podemos lidar com tudo o que aparecer na nossa frente.
(Confiança incondicional). Irradiação do Lumpa da bondade
fundamental (Ver abaixo).
Em qualquer situação,
no intercambio com o mundo, na falha ou sucesso, não importa. Tudo o que
importa é a troca com o mundo e sua respectiva percepção.
Lumpa: Um estado em
que dois climas emocionais que surgem simultaneamente na consciência: sadness e
joy. (tristeza e alegria/gozo).
Tristeza: Sentimento
cru, vulnerável. Ele se manifesta quando estamos com o coração aberto . Somos
tocados pelas coisas e tocamos também. Se manifesta como uma abertura doce,
suave, como receptividade em relação ao mundo.
Deleite/gozo -
Alegria, respeito, entusiasmo. O mundo te acordou e você tem todos esses
sentimentos dentro de si.
Discussão.
A conexão com todos
os sentimentos da sua vida só é possível quando saímos do nosso casulo. Isso
vai contra tudo o que aprendemos a fazer para sobreviver no mundo. Para conseguir, é
preciso confiar totalmente em você mesmo.
Incluir a morte na
experiência. E também o que acontece depois dela. É poderoso porque é
incondicional. Não está baseado em situações relativas. A ponte que permite
alcançar este estado é a prática da consciência panorâmica na meditação.
Começamos a ter flashes dessas aberturas em nossa vida cotidiana. Afetará
também nossos sonhos. A natureza fundamental da nossa mente está sempre
desperta. É o tipo de meditação
que você pode levar para onde quiser, realizando qualquer atividade.
Entretanto, ela não
substitui a prática da meditação sentada. Precisamos estabilizar a mente antes
de conseguir fazer isso em qualquer lugar (Shamatha). Usando a famosa
parábola hindu, algumas vezes guiamos o elefante, outras vezes temos que deixar
nos levar. Acontece milhões de
vezes todos os momentos. Tudo o que precisamos fazer é nos conectar.
Em vez de tentar “não
agir” de acordo com nossos padrões, simplesmente nos conectamos com o momento
atual. A consciência panorâmica se torna a chama que queima nossos padrões
habituais.
Essa prática afirma
que não há nenhum lugar para ir ou para chegar. Não significa que não devemos
ter planos ou objetivos na vida. Apenas que as coisas são como são. Se você
está fazendo algo, faça esse algo com todo o seu ser. Tudo se torna um lembrete
para despertar.
Vipashyana, portanto,
é a expêriencia das coisas como são: descomplicadas!
Adquirimos confiança
na nossa natureza básica cada vez que percebemos que a vida nos oferece algo com
o qual podemos lidar. O campo de treino é a meditação. Ela treina sua mente
para ser forte e aberta. O campo de atuação é a própria vida.
Sessão quatro.
Vipashyana é uma
técnica diferente, mas afeta as outras práticas. Em última análise, não se
trata de práticas separadas.
Em Vipashyana, o ato
de levantar os olhos intensifica a prática. Expande o campo da consciência.
Ocupa todo o espaço possível da atenção. Quando voltamos para Shamatha, essa
consciência intensificada vai junto e amplifica a percepção daquilo que vai
pela sua mente. A consciência da aversão e da atração. A consciência das
brechas. Por isso Vipashyana deveria ser incluída na prática diária. Ela não é
algo do qual você consegue se desligar totalmente. A consciência ampliada se
torna parte daquele 75%, praticado no módulo três.
Tema da sessão
quatro: Curiosidade inquisitiva ou investigadora.Trata -se de uma
qualidade que se manifesta com a abertura. Quando a luta com a
prática da meditacao começa a diminuir. Trata -se de um
sentimento de que não se tem nada a perder nem nada a ganhar. Vem junto com o
senso de confiança e contentamento.
Tédio quente x Tédio
frio.
Tédio quente: Fica -
se irritado : Nao se quer mais praticar. Fica- se em fogo. Há luta: Perde - se
o padrao de entreterimento normal. Como no caso de Ex - fumantes.
Tédio frio/fresco:
Quando o cotidiano te carrega. Você diz: OK. Permanece relaxado. Há abertura.
Noção de que não há nada a ganhar nem nada a perder.
Quando temos essa
atitude, como resultado da prática de Vipashyana, nossa experiências são menos
manipuladas. Expêriencia fresca. Há um livro sobre isso: Mente Zen ou mente de
principiante.
O tédio frio Leva a
um maior equilíbrio para se relacionar com o mundo. Podemos sentir todas as
diferenças acontecendo. Ficamos menos impulsivos. Usufruimos mais. Deleitamo -
nos mais. Intensifica e deixa a experiência mais precisa. Entretanto não muda o
modo como nos sentimos a respeito das coisas.
Desenvolvemos o
desejo de explorar cada aspecto do mundo a nossa volta, e cada vez mais
profundamente. Queremos ir mais longe, queremos querer mais. Sentimos isso sem
criar metas. É um paradoxo.
E cada vez que
olhamos mais longe, o mundo nos acorda mais.
Transforma todos os
nossos pensamentos no "primeiro pensamento". Ele é uma resposta da
experiência direta (esse primeiro pensamento).
O pensamento tem
menos a qualidade de se misturar com a memória (passado). E também não tem um
julgamento embutido.
E é isso o que
acontece antes do bla bla bla mental. É uma expressão direta e com frescor da
sua experiência pessoal, livre dos seus padrões habituais. Do seu jeito, do seu
caráter.
Criamos uma
curiosidade sobre todos os detalhes e aspectos da vida. Passamos a celebrar
todos os momentos. Apenas descansamos a nossa mente na Bondade Fundamental,
dentro da brecha entre um pensamento e outro. Comecamos a confiar mais na
experiência de estar vivo no mundo.
O mundo começa a nos
enviar emails.As mensagens vão como tentativa e erro. Às vezes você pega, às
vezes não pega. E o mundo reflete de volta sua mente para você.
Vipashyana também pode
ser vissto como um treinamento para recuperar constantemente seu equilibrio.
Ela é como um tipo de eco e reflete nossa mente de volta ao mundo. E as
mensagens ficam mais claras.
Por exemplo, posso
questionar se estou reagindo em excesso ou pouco em relacão ao que está me
acontecendo?
Percebemos com mais
clareza quando perdemos a conexão interna e vamos na onda da semi -
consciência.
Desenvolvemos um
destemor - Temos a sensação de que podemos lidar com qualquer coisa que se
apresente. Acreditamos e confiamos nisso.
Nao é exatamente um
novo jeito de se relacionar com o mundo, mas melhora a inteligência e a
intuição. Sabemos exatamente o que fazer, frente ao que quer que aconteça. Isso
ocorre porque somos capazes de enxergar com clareza. Nunca sabemos o que fazer
até que se esteja na situação dada.
O quatro Dralas (4
canções).
Enriquecer/
Magnetizar/ Assentar/ Destruir.
Para saber como agir
ou o que fazer, não nos baseamos em regras. As regras apenas são necessárias
quando você não sabe o que fazer ou como agir.
Sessão cinco.
O módulo quatro do
processo Shambhala discute o Coração Desperto - Aprendemos que todas as coisas
se tornam objetos de meditação ou aquilo que nos desperta.
A técnica de Shamatha
é trabalhada nos três primeiros níveis do processo Shambhala. Sua prática deve
ser acurada, precisa, disciplinada e literal.
Obstáculos e
antídotos para Shamatha.
Um dos obstáculos
ensina que o praticante pode eventualmente esquecer a técnica. Devemos portanto
desenvolver uma clareza sobre como praticar.
A técnica de
Vipashyana inclui muito mais nuances e é muito mais livre do que a técnica de
Shamatha. O mestre tibetano Trungpa dizia que Vipashyana é quase romântica e que
a prática deve ser o mais divertida possível.
A primeira palestra
deste módulo tentou definir o que é Vipashyana e como ela nos afeta. Como abre
nosso coração e como abre a comunicação entre o mundo e você. Como aprendemos a
ver com clareza as coisas como elas são. Conforme vemos as coisas com clareza,
desenvolvemos um respeito pela elegância e pela interconexão das coisas. Uma
apreciação natural em relação a como as coisas se apresentam.
Esse respeito é como
uma porta para perceber os detalhes mais sutis dessa comunicação. Conectamo -
nos com a Bondade Fundamental, sua curiosidade e inquisitividade inerentes, e
com uma nova forma de comunicação entre você e o mundo. Essa curiosidade é
baseada no ato de se abrir mais para as coisas e deixar que elas te toquem. Não
manipulamos essa curiosidade. Não podemos. Não somos orientados para uma meta.
Todas as coisas são vistas como se vistas pela primeira vez, de um modo fresco.
Esse frescor cria acessos para as mensagens que o mundo envia em nossa direção.
Fruição - O difícil
equilíbrio entre esforço e paciência.
Com a sequência da prática, libertamo - nos do que Buda chamava da dicotomia esperança - medo (hope/fear) e do Wishful thinking (Pensamento desejoso). O Wishful thinking faz como que nos desloquemos para o futuro querendo que as coisas aconteçam de um determinado modo. Ficamos, portanto, livres de tentar ou querer que as coisas aconteçam de um determinado modo. Isto nos drena a energia vital. Isto nos liberta e nos abre para uma verdadeira entrega à vida.
Desenvolvemos um jeito mais relaxado, mais leve e livre para encarar qualquer coisa que encontremos pela frente.
Perdemos também o medo que nos consome quando você espera que algo aconteça de um determinado modo.
A personalidade fica mais divertida e leve com praticamente qualquer coisa com a qual esteja se relacionando.
Steadyness - Equanimidade - Constância. Equilibrio.
Esta qualidade nos habilita a lidar com situações que acontecem que são inesperadas. Estas coisas inesperdas deixam de tirar você fora do seu eixo de equilíbrio. Equanimidade não significa que não temos mais sentimentos. Isto é um mito.. Sem esta equanimidade, nós reagimos automaticamente aos eventos. Com equanimidade, escolhemos nossa resposta para as coisas. Trata - se do oposto do que conhecemos como reatividade. Dá a qualidade para que consigamos guiar a própria mente. E a mente é cheia de energia!
A equanimidade traz junto consigo o senso de humor e o prazer. Nunca toma as coisas de forma pessoal, portanto não se afeta tanto com elas.
As mensagens do mundo te tocam, mas você não vê isso como uma coisa tão importante. O humor e a clareza ajudam a manter o equilíbrio.
Equilibrio significa se engajar pessoalmente com cada coisa que está acontecendo, momento após momento.
Eu posso ver o mundo através da dicotomia hope - fear. Ou eu posso permitir que as coisas sejam do jeito que são.
Se você ver que está perdendo o equilíbrio, naquele mesmo momento recobra este equilíbrio, através da consciência do processo. Se não deu tempo de recobrar o equilíbrio e percebe que já jogou os pratos na parede que se espatifaram, simplesmente você pega os cacos do prato sem pensar mais naquilo e segue em frente.
Conectamos, através de Vipashyana, com o lado sagrado do mundo. Trata -se também de uma forma de amor ao mundo. Relacionamo - nos com o mundo sem ressentimentos ou expectativas, nos apaixonando por ele. Apreciamos a tudo pelo que tudo é, num engajamento sem luta.
Se você percebe que está dentro de um conflito, essa percepção é uma forma de você se despertar. Você não se envergonha mais de ser quem você é.
Tudo te desperta, dor ou prazer. Se é assim, então tanto faz!
Você passa a viver num ambiente livre de conflito. Tudo é completamente interessante e cheio de energia. Quando atingimos esse ponto nunca ficamos cheios ou cansados do mundo.
Discussão.
Na bondade fundamental quando dizemos que o mundo é bom isto não significa que temos que ter determinadas atitudes em relação ao mundo. A habilidade de saber sempre o que fazer e como agir vem dessa visão clara de Vipashyana. Ao ver tudo com mais clareza, tocamos a sabedoria que sempre esteve e está presente. Discernimos entre aquilo que é a realidade e o que é projeção ou ilusão. Ao alcançarmos tal realização nasce dentro de nós um desejo de ajudar as outras pessoas a despertar também, para ver o mundo da mesma forma.
Fim
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