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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Vipashyana por Shambhala - Andre Barreto

Os  textos abaixo são anotações pessoais minhas durante o módulo quatro do processo Shambhala que participei em 2009. Muitas vezes tive dificuldade em compreender o significado das frases anotadas. Shambhala é um método de meditação adaptado do Budismo Tibetano para o Ocidente por Trungpa. Mesmo adaptado, as parábolas e exemplos são muitas vezes bizarros e de difícil compreensão. De qualquer modo, as anotações descrevem a técnica de Vipashyana, segundo a visão de Shambhala. Apenas esse fato torna o conteúdo destas anotações valorosas para o praticante. Boa leitura.

Andre Barreto - Dezembro de 2011.


Vipashyana por Shambhala.

Sessão um.

No nível 3 trabalhamos com a técnica Mindfulness (Shamatha), que quer dizer aquietar a mente. Desenvolvemos a paz interior. Shamatha diminui aos poucos a atividade da mente. Limita os pontos de referência que a mente tem em seu estado cotidiano. Aos poucos, a mente fica menos e menos agitada.
Shamatha melhora também a acuidade e precisão. De um modo geral Shamatha desenvolve na mente as 3 qualidades abaixo:

1. A mente fica mais estável (Ela faz o que você manda, e não o que ela quer que você faça).

2 - A mente fica mais clara.

3 - A mente fica mais forte ( Consegue prestar mais atenção e por mais tempo).

Neste nível 4, deixamos Shamatha de lado e exploramos a técnica conhecida como Awareness, ou Vipashyana ou Insight meditation. A meta aqui é a visão clara ou perfeita. No Tibet, Vipashyana significa a “chama que queima do combustível da mente conceitual”. Ela é como uma chama. Queima o “combustivel” do ego. Mina os pontos de referência do ego. Aquilo que o ego usa para se definir, localizar, se acalmar, etc. Como por exemplo: Eu e meu inimigo. Eu e a minha raiva. Eu e meu amigo, etc.

Vipashyana desenvolve um intelecto preciso , afiado, cheio de discernimento. Uma consciência discriminadora. Enquanto Mindfulness desenvolve a paz e clareza, Vipashyana traz insight, a intuição, a habilidade de “saber” as coisas. Um saber baseado não no acúmulo de informações, mas ao observar como as coisas se relacionam entre si.




Para praticar, devemos colocar nossa atenção nas respostas que temos para as coisas. Perceber os sentimentos de repulsa ou atração que direcionamos a tudo. Perceber a atmosfera da mente. Dos pensamentos, das emoções, etc. Ao abordar a respiração, não ficamos apenas percebendo - a com clareza, mas procuramos estar conscientes da respiração.
Nada deve ser rejeitado da consciência. Você não diz: “Estou consciente disso, mas gostaria de estar consciente daquilo”. A própria noção de esforço muda com a aplicação da técnica.

Vipashyana possui oito atributos que serão ensinados depois, ao longo do processo Shambhala.
Para um melhor esclarecimento, seguem algumas diferenças entre Shamatha e Vipashyana.
Em Shamatha, trazemos constantemente nossa atenção de volta a respiração. Como na conhecida imagem hindu do elefante, estamos constantemente recolocando a mente no caminho correto.
Em Vipashyana esta imagem muda: O elefante é que está carregando você. Ou seja: Não importa o que aparece na sua mente. Bonito, feio, agradável ou doloroso. Você simplesmente coloca sua atenção sobre aquilo.
Não há uma meta a ser alcançada. Não estamos indo a lugar nenhum. Não estamos tentando alcançar nada. Ficamos completamente contente apenas fazendo isso.
Alcançar isso se torna possivel por causa de uma brecha em nossa mente. Essa brecha está acontecendo o tempo inteiro. Existe uma Mente em nossa mente que esta ali antes de você existir. É ali onde ocorre a percepção pura das coisas. Por cima da brecha, sobre ela criamos o mundo, os conceitos. Vipashyana percebe a brecha e tudo o que foi construido sobre a brecha (nosso mundo construído).
Vipashyana, portanto, convida - nos a experimentar a percepção pura dentro de nossas vidas.

Descrição da técnica.

Olhos:

Olhar diretamente em frente (ao invés de repousar à frente. como em Shamatha). Vai e volta. Quando a técnica nova o exaurir, retorne para a técnica de Shamatha.

Respiração:

Quando expirar, expandir sua consciência para fora e ocupar todo o espaço. Irradiar para fora, ocupando o espaço em volta de você. Todos os sentidos estão incluídos na prática. 
Primeiro tem-se a experiência de um frescor na pele. Fica-se consciente da experiência direta. Em seguida experimenta -se o sentimento, o conceito.

Ficar mais atento durante a expiração. Sua mente - consciência literalmente se expande pelo espaço.
Se voce perceber a si mesmo pensando sobre a pratica (coisas como Será que isso está certo?), este próprio pensamento se torna o objeto onde você colocará sua atenção. Perceba a sua discursividade do ponto de vista da consciência. Voce não deve cortar e voltar para a respiração, como em Shamatha. Você vai contemplar aquilo que está sendo observado. É diferente de estar absorto no pensamento. O pensamento é mais um objeto observado, ele não é você.

Procure perceber em especial os sentimentos de atração, repulsão e de indiferença. Logo após isso, perceba como formamos o conceito daquilo. Perceba esse processo acontecendo na sua frente. É tudo muito rápido. A técnica reduz a velocidade da realidade e a consciência passa a ver claramente isso. No estado normal só captamos o conceito final. Mas, como vimos, o conceito vem depois da experiencia direta, e depois da sensação básica (atração/repulsão).

Ao observar um sentimento/sensação, podemos nos perguntar: Qual é a textura do sentimento? Ele coça? É frio? É áspero? Macio? Parece uma lâmina?
Ao redor do sentimento, como é a atmosfera em volta?

Use seu próprio julgamento para usar essa técnica. Às vezes precisa esforço, às vezes voltar para a respiração.
Quando baixar a intensidade da experiência ou perceber -se cansado, volte para a técnica de Mindfulness.
Lembre -se: não estamos tentando mudar nada. Em Vipashyana, toda a experiência que temos trabalha para nos despertar.

Praticando.

Irradie -se através da expiração por toda a sala. Ocupe com a mente e a intenção todo o espaço ao seu redor.

Siga os três passos descritos abaixo.

1 - desperte com um toque leve. Encontre um balanço entre a precisao da irradiação e um sentimento de liberdade completa. Ao se sentar, conecte-se com a postura, respiração e a técnica de rotular (nomear) o que aparece. Quando conseguir estabelecer essa conexão, levante os olhos e mire para frente. Veja o sentimento de todo o ambiente. A sua respiracao está acontecendo nesse espaço, nos 360 graus ao redor. A mente sente o espaço. Permite que as experiências venham e vão. Não retenha, nao alimente, nao faça nada com a experiência. Desenvolva uma atencão nua/vazia (bare).

2 - Desenvolva um sentido de não reacão, de aqui e agora, de novo e de novo. E de novo...

Do ponto de vista da consciência, nao faz qualquer diferença o que está acontecendo. Não existe nenhuma necessidade de um diálogo consigo mesmo. Não importa, realmente. Trata -se de um conceito bastante radical para a mente ocidental apreender. Vai demorar um pouco.

Cada coisa que você vivencia apenas o relembra de estar consciente, aqui e agora.


3 - Ande através do espaco da sua mente. Vá e volte. Divirta -se.

Com a prática observa -se o afiamento do intelecto mais do que da intuição. Mas a intuição estará sendo refinada também.


Sessão dois.


Repousamos nossa mente no conceito, usualmente. Mesmo que isto nos cause sofrimento. É uma referência e um hábito. Quanto mais sólidos os pontos de referência conceituais, mais densa fica a mente. Assim criamos um mundo claustrofóbico; Os espaços onde as guerras acontecem.

Durante a prática quando o diálogo interno começar a ganhar força é a hora de abaixar o olhar, voltar a rotular os pensamentos. Voltar para Mindfulness.

Em Mindfulness temos muitos pontos de referência. Vipashyana dá um passo além e usa a clareza de Mindfulness para queimar os próprios pontos de referência.
Com a prática os sentidos começam a se misturar com sua consciência.

No nivel três de Shambhala, 25% da atenção ficava na respiração. E 75% nas percepções. Isso permitiu naquele momento que outros objetos aparececem na sua prática. Embora ainda bastante focado na respiração, o nível três expandiu sua mente e convidou os objetos para que emergissem. O nivel três foi uma plataforma para se alcançar o nivel quatro: Vipashyana.


O mesmo acontece ao se mover entre o nível quatro para o nível cinco. A diferença entre a meditação e a pós meditação começa a se dissolver um pouco. Começa -se a fazer a prática quando se está no cotidiano. Acontecem uns flashs. A prática permite que aconteça. Flashs começam a acontecer depois da prática da meditacao sentada. Tem um jeito de estimular isso no cotidiano.Você pode dar um flash e se expandir por todo o ambiente. Incluir um espaço maior. Na hora do almoço. Sente-se um pouco estranho, mas não importa. Você está expandindo sua consciência para incluir um
espaço maior.


Sessão três.


Consciência panorâmica. O que acontece quando sua mente desperta.

São três os atributos da consciência panorâmica: Comunicação, inquisitividade investigativa e esforço de paciência. Vamos passar por cada um deles.


1 - Comunicação.


Passamos a nos comunicar não só com as pessoas, mas com tudo o que está a nossa volta, como num tipo de conexão sutil.

Conectamo - nos ao mundo como ele é realmente. Com o mundo que você vê, sente, toca, das relações entre as pessoas e da sua mente.

Quando temos esta percepção mais clara do mundo ele pode parecer um pouco estranho. Não o sentimos mais da forma como o sentíamos antes. Podemos por exemplo responder a uma situacao e questionar a nossa reação. Alguém te diz algo e você fica arrasado. Sua percepcão fica mais acurada e menos distorcida pelas suas projeções.


Nao existe infelizmente um jeito padronizado de como o mundo vai responder a você.

Vamos analisar agora a diferença entre ver claramente e ver através de nossas interpretacões ou pontos de referência.


O Dr. Jeremy Harold escreveu sobre esta habilidade de ver com clareza em seu livro "O mundo sagrado".


O mundo pode aparecer com bordas mais pontudas e afiadas. Ao mesmo tempo mais brilhante, intenso. A negatividade fica mais clara e o brilho mais intenso.

Desenvolvemos um maior respeito pelo mundo ao nosso redor. Desenvolvemos também uma elegância inerente. As coisas aparecem a você como conectadas entre si. E esse respeito nos ajuda a entender e aprender novas coisas.

Podemos falar em três categorias de respeito pelo mundo: corpo, fala e mente. Ou externo, interno e sagrado.


Corpo/externo: Desenvolvemos uma forma natural de lidar com o ambiente. Lidamos melhor com as vestimentas. Ficamos cientes do relacionamento entre os objetos.  

Começamos a perceber a conexão entre como você organiza a mesa, a roupa, etc.

Fala/Interno- Dizemos as coisas de forma acurada , verdadeira e clara. Nao se trata de sair por ai dizendo a verdade para as pessoas. Nao se trata de despejar sua opinião sobre o mundo.


A gente começa a não ter vergonha de ser quem a gente é. Expressamo -nos genuinamente. Nao se trata de uma mudança em sua atitude com o mundo. Sua consciência e sua clareza fazem com que você tenha respeito sobre quem voce é.
Isto ocorre com base na apreciacao que temos sobre quem a gente é.



Desafiamos nossos padroes de auto - engano, ou pequenos jogos que jogamos com a gente mesmo. Dizemos a nós mesmos: "É assim que eu sou, é assim como eu funciono. Não consigo mudar". Esse jogo não é absolutamente necessário. Trata -se apenas de um jeito de cobrir nosso medo ou nossa falta de autoconfiança. Passamos a ter mais clareza quando isso acontece e sabemos intuitivamente que tais jogos não são tão relevantes. Passamos a confiar em um único ponto de referência, que é a Bondade Fundamental- Ou: a natureza básica da nossa mente. Os outros pontos de referência da mente perdem aos poucos a sua importância. Também ficamos muito conscientes destes pontos.


Tudo no mundo: as neuroses, uma flor, seu chefe, um bom vinho, um filme. Tudo passa a nos despertar. Todas as experiências se tornan objetos de percepção, ao invés de ser algo no qual nos prendemos ou nos perdemos. Passam a ser gatilhos. Quando nos conectamos ao mundo dessa forma temos um tipo de experiência de algo que é totalmente não condicionado, sem limite de energia. Um banco infinito de energia(Cavalo de vento - Banco infinito de energia - Seria o Intento do qual os  Toltecas falavam?). Podemos entrar em contato com esse banco de energia da Bondade Fundamental. Ela é muito poderosa. Está sempre lá. Nunca diminui ou fica indisponível. Fazemos um esforço consciente para não ser afetado por ela (Um esforço habitual). Ela pode, por outro lado, ser invocada.


Quando acessamos este nível, irradiamo - la para fora como confiança incondicional. Uma confiança completa em você mesmo. Podemos lidar com tudo o que aparecer na nossa frente. (Confiança incondicional). Irradiação do Lumpa da bondade fundamental (Ver abaixo).


Em qualquer situação, no intercambio com o mundo, na falha ou sucesso, não importa. Tudo o que importa é a troca com o mundo e sua respectiva percepção.


Lumpa: Um estado em que dois climas emocionais que surgem simultaneamente na consciência: sadness e joy. (tristeza e alegria/gozo).


Tristeza: Sentimento cru, vulnerável. Ele se manifesta quando estamos com o coração aberto . Somos tocados pelas coisas e tocamos também. Se manifesta como uma abertura doce, suave, como receptividade em relação ao mundo.

Deleite/gozo - Alegria, respeito, entusiasmo. O mundo te acordou e você tem todos esses sentimentos dentro de si.


Discussão.


A conexão com todos os sentimentos da sua vida só é possível quando saímos do nosso casulo. Isso vai contra tudo o que aprendemos a fazer para sobreviver no mundo. Para conseguir, é preciso confiar totalmente em você mesmo.


Incluir a morte na experiência. E também o que acontece depois dela. É poderoso porque é incondicional. Não está baseado em situações relativas. A ponte que permite alcançar este estado é a prática da consciência panorâmica na meditação. Começamos a ter flashes dessas aberturas em nossa vida cotidiana. Afetará também nossos sonhos. A natureza fundamental da nossa mente está sempre desperta. É o tipo de meditação que você pode levar para onde quiser, realizando qualquer atividade.

Entretanto, ela não substitui a prática da meditação sentada. Precisamos estabilizar a mente antes de conseguir fazer isso em qualquer lugar (Shamatha). Usando a famosa parábola hindu, algumas vezes guiamos o elefante, outras vezes temos que deixar nos levar. Acontece milhões de vezes todos os momentos. Tudo o que precisamos fazer é nos conectar.


Em vez de tentar “não agir” de acordo com nossos padrões, simplesmente nos conectamos com o momento atual. A consciência panorâmica se torna a chama que queima nossos padrões habituais.


Essa prática afirma que não há nenhum lugar para ir ou para chegar. Não significa que não devemos ter planos ou objetivos na vida. Apenas que as coisas são como são. Se você está fazendo algo, faça esse algo com todo o seu ser. Tudo se torna um lembrete para despertar.


Vipashyana, portanto, é a expêriencia das coisas como são: descomplicadas!
Adquirimos confiança na nossa natureza básica cada vez que percebemos que a vida nos oferece algo com o qual podemos lidar. O campo de treino é a meditação. Ela treina sua mente para ser forte e aberta. O campo de atuação é a própria vida.

Sessão quatro.


Vipashyana é uma técnica diferente, mas afeta as outras práticas. Em última análise, não se trata de práticas separadas. 


Em Vipashyana, o ato de levantar os olhos intensifica a prática. Expande o campo da consciência. Ocupa todo o espaço possível da atenção. Quando voltamos para Shamatha, essa consciência intensificada vai junto e amplifica a percepção daquilo que vai pela sua mente. A consciência da aversão e da atração. A consciência das brechas. Por isso Vipashyana deveria ser incluída na prática diária. Ela não é algo do qual você consegue se desligar totalmente. A consciência ampliada se torna parte daquele 75%, praticado no módulo três.


Tema da sessão quatro: Curiosidade inquisitiva ou investigadora.Trata -se de uma qualidade que se manifesta com a abertura. Quando a luta com a prática da meditacao começa a diminuir. Trata -se de um sentimento de que não se tem nada a perder nem nada a ganhar. Vem junto com o senso de confiança e contentamento.


Tédio quente x Tédio frio.


Tédio quente: Fica - se irritado : Nao se quer mais praticar. Fica- se em fogo. Há luta: Perde - se o padrao de entreterimento normal. Como no caso de Ex - fumantes.

Tédio frio/fresco: Quando o cotidiano te carrega. Você diz: OK. Permanece relaxado. Há abertura. Noção de que não há nada a ganhar nem nada a perder.

Quando temos essa atitude, como resultado da prática de Vipashyana, nossa experiências são menos manipuladas. Expêriencia fresca. Há um livro sobre isso: Mente Zen ou mente de principiante.

O tédio frio Leva a um maior equilíbrio para se relacionar com o mundo. Podemos sentir todas as diferenças acontecendo. Ficamos menos impulsivos. Usufruimos mais. Deleitamo - nos mais. Intensifica e deixa a experiência mais precisa. Entretanto não muda o modo como nos sentimos a respeito das coisas.

Desenvolvemos o desejo de explorar cada aspecto do mundo a nossa volta, e cada vez mais profundamente. Queremos ir mais longe, queremos querer mais. Sentimos isso sem criar metas. É um paradoxo.

E cada vez que olhamos mais longe, o mundo nos acorda mais.

Transforma todos os nossos pensamentos no "primeiro pensamento". Ele é uma resposta da experiência direta (esse primeiro pensamento).

O pensamento tem menos a qualidade de se misturar com a memória (passado). E também não tem um julgamento embutido.

E é isso o que acontece antes do bla bla bla mental. É uma expressão direta e com frescor da sua experiência pessoal, livre dos seus padrões habituais. Do seu jeito, do seu caráter.

Criamos uma curiosidade sobre todos os detalhes e aspectos da vida. Passamos a celebrar todos os momentos. Apenas descansamos a nossa mente na Bondade Fundamental, dentro da brecha entre um pensamento e outro. Comecamos a confiar mais na experiência de estar vivo no mundo.

O mundo começa a nos enviar emails.As mensagens vão como tentativa e erro. Às vezes você pega, às vezes não pega. E o mundo reflete de volta sua mente para você.


Vipashyana também pode ser vissto como um treinamento para recuperar constantemente seu equilibrio. Ela é como um tipo de eco e reflete nossa mente de volta ao mundo. E as mensagens ficam mais claras.

Por exemplo, posso questionar se estou reagindo em excesso ou pouco em relacão ao que está me acontecendo?

Percebemos com mais clareza quando perdemos a conexão interna e vamos na onda da semi - consciência.

Desenvolvemos um destemor - Temos a sensação de que podemos lidar com qualquer coisa que se apresente. Acreditamos e confiamos nisso.

Nao é exatamente um novo jeito de se relacionar com o mundo, mas melhora a inteligência e a intuição. Sabemos exatamente o que fazer, frente ao que quer que aconteça. Isso ocorre porque somos capazes de enxergar com clareza. Nunca sabemos o que fazer até que se esteja na situação dada.


O quatro Dralas (4 canções).

Enriquecer/ Magnetizar/ Assentar/ Destruir.


Para saber como agir ou o que fazer, não nos baseamos em regras. As regras apenas são necessárias quando você não sabe o que fazer ou como agir.


Sessão cinco. 


O módulo quatro do processo Shambhala discute o Coração Desperto - Aprendemos que todas as coisas se tornam objetos de meditação ou aquilo que nos desperta.

A técnica de Shamatha é trabalhada nos três primeiros níveis do processo Shambhala. Sua prática deve ser acurada, precisa, disciplinada e literal.
 

Obstáculos e antídotos para Shamatha.


Existe uma versão em nove estágios para o caminho de Shamata - Vipashyana.

Um dos obstáculos ensina que o praticante pode eventualmente esquecer a técnica. Devemos portanto desenvolver uma clareza sobre como praticar.

A técnica de Vipashyana inclui muito mais nuances e é muito mais livre do que a técnica de Shamatha. O mestre tibetano Trungpa dizia que Vipashyana é quase romântica e que a prática deve ser o mais divertida possível.

A primeira palestra deste módulo tentou definir o que é Vipashyana e como ela nos afeta. Como abre nosso coração e como abre a comunicação entre o mundo e você. Como aprendemos a ver com clareza as coisas como elas são. Conforme vemos as coisas com clareza, desenvolvemos um respeito pela elegância e pela interconexão das coisas. Uma apreciação natural em relação a como as coisas se apresentam.

Esse respeito é como uma porta para perceber os detalhes mais sutis dessa comunicação. Conectamo - nos com a Bondade Fundamental, sua curiosidade e inquisitividade inerentes, e com uma nova forma de comunicação entre você e o mundo. Essa curiosidade é baseada no ato de se abrir mais para as coisas e deixar que elas te toquem. Não manipulamos essa curiosidade. Não podemos. Não somos orientados para uma meta. Todas as coisas são vistas como se vistas pela primeira vez, de um modo fresco. Esse frescor cria acessos para as mensagens que o mundo envia em nossa direção.


Fruição - O difícil equilíbrio entre esforço e paciência.


Com a sequência da prática, libertamo - nos do que Buda chamava da dicotomia esperança - medo (hope/fear) e do Wishful thinking (Pensamento desejoso). O Wishful thinking faz como que nos desloquemos para o futuro querendo que as coisas aconteçam de um determinado modo. Ficamos, portanto, livres de tentar ou querer que as coisas aconteçam de um determinado modo. Isto nos drena a energia vital. Isto nos liberta e nos abre para uma verdadeira entrega à vida.

Desenvolvemos um jeito mais relaxado, mais leve e livre para encarar qualquer coisa que encontremos pela frente.
Perdemos também o medo que nos consome quando você espera que algo aconteça de um determinado modo.
A personalidade fica mais divertida e leve com praticamente qualquer coisa com a qual esteja se relacionando.

Steadyness - Equanimidade - Constância. Equilibrio.

Esta qualidade nos habilita a lidar com situações que acontecem que são inesperadas. Estas coisas inesperdas deixam de tirar você fora do seu eixo de equilíbrio. Equanimidade não significa que não temos mais sentimentos. Isto é um mito.. Sem esta equanimidade, nós reagimos automaticamente aos eventos. Com equanimidade, escolhemos nossa resposta para as coisas. Trata - se do oposto do que conhecemos como reatividade. Dá a qualidade para que consigamos guiar a própria mente. E a mente é cheia de energia!
A equanimidade traz junto consigo o senso de humor e o prazer. Nunca toma as coisas de forma pessoal, portanto não se afeta tanto com elas.
As mensagens do mundo te tocam, mas você não vê isso como uma coisa tão importante. O humor e a clareza ajudam a manter o equilíbrio.
Equilibrio significa se engajar pessoalmente com cada coisa que está acontecendo, momento após momento.
Eu posso ver o mundo através da dicotomia hope - fear. Ou eu posso permitir que as coisas sejam do jeito que são.
Se você ver que está perdendo o equilíbrio, naquele mesmo momento recobra este equilíbrio, através da consciência do processo. Se não deu tempo de recobrar o equilíbrio e percebe que já jogou os pratos na parede que se espatifaram, simplesmente você pega os cacos do prato sem pensar mais naquilo e segue em frente.
Conectamos, através de Vipashyana, com o lado sagrado do mundo. Trata -se também de uma forma de amor ao mundo. Relacionamo - nos com o mundo sem ressentimentos ou expectativas, nos apaixonando por ele. Apreciamos a tudo pelo que tudo é, num engajamento sem luta.
Se você percebe que está dentro de um conflito, essa percepção é uma forma de você se despertar. Você não se envergonha mais de ser quem você é.
Tudo te desperta, dor ou prazer. Se é assim, então tanto faz!
Você passa a viver num ambiente livre de conflito. Tudo é completamente interessante e cheio de energia. Quando atingimos esse ponto nunca ficamos cheios ou cansados do mundo.

Discussão. 

Na bondade fundamental quando dizemos que o mundo é bom isto não significa que temos que ter determinadas atitudes em relação ao mundo. A habilidade de saber sempre o que fazer e como agir vem dessa visão clara de Vipashyana. Ao ver tudo com mais clareza, tocamos a sabedoria que sempre esteve e está presente. Discernimos entre aquilo que é a realidade e o que é projeção ou ilusão. Ao alcançarmos tal realização nasce dentro de nós um desejo de ajudar as outras pessoas a despertar também, para ver o mundo da mesma forma.

Fim


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