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segunda-feira, 21 de abril de 2008

The Attention Revolution – B. Alan Wallace, PH.D.

 
Para um artigo sobre este material, acesse

Prefácio – Daniel Goleman.

Alan nos fez grande favor em destilar séculos de sabedoria da tradição Shamatha num livro palatável para os dias de hoje. Alan era um monge tibetano, sob a responsabilidade do Dalai Lama.
Pesquisou junto à neurocientistas o impacto da meditação no cérebro.
Para Alan, o básico é a boa prática, para se aumentar a capacidade de atenção.
Principalmente nas etapas mais avançadas, a presença de um professor é essencial.

Prefácio – Autor.

É sabido que a capacidade de atenção depende da quantidade/qualidade do sono, nível de stress, e outros fatores. Alguns cientistas partem do pressuposto de que a mente é por natureza instável e que nada pode ser feito para mudar isso. Minha tese é de que pode ser feito algo, e que a atenção pode não só mudar, mas mudar dramaticamente.
Meditação verdadeira e efetiva é impossível sem uma atenção focalizada.
A mente não treinada oscila entre a agitação e o marasmo/anestesiamento, entre a incansável atividade e o tédio.
Ao longo de séculos, as tradições produziram uma rica coleção de técnicas com o objetivo de estabilizar a mente. No Budismo (tibetano) a técnica se chama Shamatha. Ela é o caminho de desenvolvimento de atenção que culmina numa atenção que pode ser sustentada por horas sem esforço.
Mesmo hoje em dia, poucos professores de Budismo põem ênfase na atenção sustentada e prolongada. Alguns dizem que “apenas um shamatha temporário” é necessário para as práticas de meditação de insight. O valor de Shamatha foi reconhecido no budismo chinês inicial. O Zen moderno, entretanto, não ensina mais técnicas específicas voltadas para o desenvolvimento de uma atenção balanceada de longo prazo. Poucos professores atuais dão importância ao ensinamento dos grandes meditadores do passado que diziam que “atingir shamatha é fundamental para efetivar os níveis mais avançados da prática”. É espantoso como a importância de uma atenção focada é desconsiderada tanto pela ciência quanto pelas tradições budistas. Quando a atenção está desfocada, influencia em tudo o que fazemos. Quando está focada, idem. A prática não requer compromisso com nenhuma religião ou ideologia. É uma chave para o balanço mental cujos benefícios estão acessíveis a todos que perseverarem na sua prática.





Minha História.

Alan conta rapidamente sua trajetória, desde 1972 até hoje, tanto na prática de meditação quanto na vida acadêmica. Conta como foi intérprete do Dalai Lama por dez anos, como conheceu um ermitão que meditou em solidão por vinte anos, como voltou aos EUA, graduou-se e continuou a meditar e estudar. Dois anos em solidão na Índia, e mais dois anos nos EUA.

Introdução.

Alan inicia frisando a importância da atenção em tudo o que fazemos. E recoloca a dualidade “agitação – Marasmo”.
Segue discutindo o déficit de atenção (ADAH), citando o principal tipo de abordagem atual: A medicação, ou abordagem materialista para o problema. Alan lembra que a medicação não cura nada, apenas suprime os sintomas com vários efeitos nocivos. Acrescenta que quando não ficamos viciados fisiologicamente, ficamos psicologicamente. Alan lembra que o remédio pode ser importante quando integrado a uma série de outras técnicas. E quanto mais pudermos livrar as pessoas dos remédios fortes, tanto melhor.
Em seguida, Alan disserta sobre a construção da realidade que fazemos e como esta é afetada pela atenção. Pág. 2 . “A realidade que se apresenta a nós não tanto é o que está lá fora de fato, quanto àquela cota a qual prestamos alguma atenção”.
O autor muda o foco da investigação para a área da ética e comportamento. “Uma mente fraca é mais dada a cair em tentação e ao pecado”.
A capacidade criativa e cientifica de uma mente focada: “Todos os grandes gênios tinham a capacidade grande para focar a mente”. 3.

A plasticidade da atenção.

Porque não se pesquisou mais sobre isso?
Crença geral de que o nível ou grau de atenção de uma pessoa é inflexível.
As técnicas ensinadas neste livro vêm do Budismo Indiano e Tibetano.
Os benefícios deste livro são estendidos a todos os níveis do espectro. Os primeiros capítulos serão úteis especialmente as pessoas com ADAH. Também será valiosa a contribuição àqueles que estão num caminho contemplativo.
Algumas partes do livro discutem divergências internas do Budismo. Assuntos polêmicos e que estão pendentes de consenso há eras.




Dez estágios do desenvolvimento da atenção.

Escolhi como padrão em estágios a mais completa e detalhada descrição dos estágios de meditação que conheci em meus estudos: O clássico texto budista de Kamalashila (Indiano do Século 18) “Estágios da meditação”. Para ele, o caminho da purificação requer três coisas: Insight contemplativo, desenvolvimento da atenção; Desenvolvimento da ética. Usando Kamalashila como guia, podemos saber onde estamos o que devemos estar fazendo, e o que procurar.
Os dez estágios são seqüenciais. Começam com uma mente que não consegue focar por mais de três segundos, e termina com um estado de sublimidade que pode ser sustentado por horas. Progredimos alcançando cada vez formas mais sutis dos dois principais obstáculos: Agitação mental e anestesiamento/letargia. O sucesso em cada estágio sucessivo é acompanhado por critério específico e acompanhado por um claro sinal.

Três técnicas.

Até o estágio quatro, recomendo a técnica de “prestar atenção à respiração”. Do estágio cinco ao oito, podemos mudar para a técnica “Mantendo a mente em seu estado natural”. Para os últimos estágios, mudamos para “Shamatha sem objeto”. Pág.7.

Interlúdios.

Entre as explicações sobre os estágios, o autor acrescentou pequenas práticas: A primeira parte que engloba os quatro primeiros estágios, o autor trata das quatro qualidades do coração aberto, ou amor espiritual: O amor-gentileza, a compaixão, a equanimidade e a alegria empática. A partir das explicações dos estágios mais avançados, o autor acrescenta detalhes sobre técnicas de sonho lúcido, tirado das tradições e da ciência. Acrescenta que um dos grandes benefícios do desenvolvimento da atenção é a possibilidade do cultivo de qualidades positivas.

Objetivos e expectativas.

Muitos vão tirar grandes benefícios em sua vida atribulada apenas alcançando o nível dois. Para a maioria das pessoas, alcançar o estágio três vai requerer um grande nível de compromisso como passar uma hora ou duas todos os dias meditando. Os estágios mais avançados que o três são para aqueles que desejam passar meses ou até anos em retiros ou ambientes propícios à prática. Para quem recebe ou percebe uma vocação de vida para isso.
No estágio nove, sua mente finalmente está livre de todas as flutuações mentais, mesmo as mais sutis. Já é possível focalizar a mente num mesmo objeto por até quatro horas!
No início do treinamento, meditadores são encorajados a meditar por 24 minutos (cerca de um sessenta avos de dia!).
Meditadores talentosos e meditadores com menos talento. De três a nove meses para alcançar estágios nove e dez em retiros prolongados. Pág.9.
Comparar com atletas olímpicos. Não é para todos, embora a pesquisa para atletas quase sempre traga benefícios para todos.

Estágio um: Atenção direcionada/direta. Pág.13.

O sinal de que você está nesse estágio: Conseguir focar a atenção num objeto por um segundo ou dois. Se seu objeto de atenção é a respiração, você pode ser capaz de alcançar esse estágio na primeira tentativa.
Conceito de “mindfullness” (mente total, presença total) é importante:
Mindfullness para o Vipassana: Um estar atento ao momento a momento, sem julgamento, a tudo o que pousar na consciência/percepção.
Em Shamatha: Atentar conscientemente a um determinado objeto de percepção, sem esquecimento ou distração.

O primeiro estágio é alcançado pelo poder de “ouvir”. Na tradição Budista, a primeira coisa que o iniciante faz é ouvir as instruções do professor. Em seguida, vem leitura, estudo e prática. O poder de ouvir se refere tanto a ouvir as instruções do mestre quanto ler a respeito, nos casos onde um mestre não está disponível.

Um dos primeiros estágios em direção a Shamatha é simplesmente notar quão caótica sua mente está. Tentamos permanecer atentos, e então simplesmente somos tragados pelo fluxo de pensamentos. Pessoas que nunca se sentaram silenciosas muitas vezes têm a ilusão de que suas mentes são calmas e pacíficas. Apenas quando elas tentam colocar um foco consciente é que percebe quanto fragmentada e caótica ela é. De uma perspectiva Budista, a mente comum ocidental, não treinada, cheia de desbalanços, é patológica ou disfuncional.

Déficit de atenção e distúrbios compulsivos-maniacos não são exclusividades dos casos crônicos: Todos nós sofremos de um modo ameno, desses distúrbios.

Dois lados da balança: Hiperatividade e Entorpecimento./hipoatividade/Déficit de atenção.
Hiperatividade: Excitação, agitação, distração da mente.
Déficit de atenção: Letargia, Lentidão, “Laxity”?
Nos dois casos há pouco controle no que acontece a mente. Não há liberdade, ou livre-arbítrio, se não posso nem controlar o que penso!14.

A prática da “mindfulness of breathing” (Foco de atenção total na respiração) requer que você prolongue o tempo de atenção na respiração, mas de uma forma relaxada, sem tensão. É uma concentração balanceada, sentindo-a de forma natural. Nos manuais budistas, é pedido um “alto-foco” na respiração. A mente ocidental tende a fazer uma leitura equivocada, por conta de seus hábitos diferentes. Segue a história de quando o autor foi fazer um primeiro retiro com o Dalai Lama, e como ele interpretou dessa maneira essa indicação. Ficou exausto, física e mentalmente. Sentiu que sua capacidade de atenção estava diminuindo, e não aumentando. Sua alegria com a prática também diminuía. O que estava errado, se eu estava tentando tão duramente?
Segundo a tradição da medicina Tibetana, todos nós ocidentais, com nossos e-mails, TV, celular, etc., sofremos de desordens mentais.
A instrução para meditação que segue incorpora a prática do relaxamento, junto com a técnica da “mente total na respiração”. 16.

Prática: Foco de atenção total na respiração (com relaxamento).

1) Vamos tentar incorporar o corpo à prática meditativa. Em todas as sessões vamos tentar colocar o corpo em seu estado natural, imbuindo-o de três qualidades: Relaxamento, imobilidade, vigilância.

2) Postura: Lótus, sentado numa cadeira, deitado de costas com a cabeça num travesseiro.

3) Olhos fechados, semi-abertos ou abertos. Preferência do autor, para esta técnica: Olhos semi-abertos, deixando entrar um naco de luz.

4) Roupas confortáveis, que não restrinjam o movimento do peito e abdômen.

5) Mãos no joelho ou unidas no centro, cabeça levemente para baixo ou vertical à frente, Língua no palato.

6) Agora traga a atenção às sensações ao longo do corpo, das solas dos pés até a coroa na cabeça. Note sensações nos ombros e pescoço, se detectar alguma tensão, solte-a.

7) Atente aos músculos da face. Tenha a face de um bebe dormindo (relaxe tudo).

8) Durante a sessão, permaneça o mais imóvel que puder. Ajuda a imobilizar a mente.

9) Se você está sentado, assuma a postura de vigilante.

10) Respire como se tivesse colocando água num pote.

11) Deitado: Posicione-se de maneira a traçar uma linha imaginária que passa pelos calcanhares (heels) , umbigo e entranhas (navels), e pelo queixo (chin).deixe os pés caírem para fora, coloque os braços a 30 graus do tronco, com as palmas das mãos para cima. Descanse a cabeça num travesseiro. Talvez ajude colocar uma almofada abaixo dos joelhos para relaxar as costas.

12) A vigilância na posição deitada é psicológica, uma atitude que coloca essa posição como uma postura meditativa formal, e não simplesmente de descanso ou sono.

13) Na prática, não imponha um ritmo a respiração, apenas continue respirando notando cada sensação que aparece no corpo.

14) Ao se distrair, não empurre com força o pensamento para longe, apenas deixe os pensamentos saírem e passarem, como uma folha que se desprende da árvore no outono. Alegremente deixe a atenção voltar à respiração.

15) Se a mente se dispersar, não fique decepcionado. Fique feliz porque você percebeu a distração.

16) Contraponha a agitação da mente relaxando mais e mais profundamente.

17) Continue praticando por um período de 24 minutos, e então retome os afazeres.

Reflexões sobre a prática.

A ênfase aqui é sobre o relaxamento físico e mental. Essa técnica é especialmente recomendada para aqueles que sofrem de pensamento compulsivo.
Buda encorajava seus discípulos a meditar nas quatro posturas básicas: Andando, em pé, sentado e deitado. O Budismo hoje dá ênfase à posição sentada. Se você tende à excitação, meditar deitado talvez seja uma boa técnica. Se você tende a dormir deitado, então talvez meditar em pé ou reto (sentado) seja indicado.
A posição deitada é ótima para quando estamos cansados, mas ainda não prontos para dormir. Meditar assim pode ser muito mais refrescante/leve/restaurador do que assistir TV ou ler o jornal. Essa posição também é ótima para pessoas em hospitais, hospícios e asilos.
Essa técnica é indicada para preparar sua mente para algum tipo de treino mental, e para pegar no sono. Para quem sofre de insônia.

Um modo de vida atento. 20.
1) Assumir que o corpo sabe exatamente a melhor forma de respirar.
2) Esta técnica pode servir para prevenção de males em nosso corpo. 21.
3) Outra analogia com os ambientalistas. Duas abordagens para lidar com um rio poluído: A primeira joga produtos químicos para limpa-lo; A segunda simplesmente não polui o rio. “Em vez de adotar alguma técnica de respiração, simplesmente pare de evocar pensamentos e sentimentos que desbalanceiam a respiração”.
4) Desbalanços mentais estão ligados ao desbalanço da respiração.
5) A única pausa que temos de influencias mentais e emocionais na respiração é durante o sono profundo. É o momento em que respiramos com mais saúde.
6) Atenção direta: Apenas focalizar a atenção nas sensações da respiração. É só isso!
7) Criar tempo para meditar todo dia requer uma dose de amor-gentileza para consigo mesmo.
Interlúdio: Amor - Gentileza.
Achar tempo para meditar parece ser algo a mais na imensa lista de coisas que tenho a fazer. Torna-se um fardo. As pessoas estão simplesmente muito ocupadas todo o tempo! Como preenchemos nosso tempo todos os dias é simplesmente uma questão de prioridades. Usando uma metáfora educacional, nossas necessidades básicas são as disciplinas obrigatórias, e restantes são as disciplinas eletivas. Quais disciplinas eletivas iremos escolher depende de nossos valores. Outra maneira de dizer isso: Após atender às nossas necessidades básicas, o resto do tempo é gasto tentando preencher os desejos de nosso coração. Podemos visualizar isso como o desejo de conquistar felicidade, significado, realização. “Você já está vivendo e possuindo felicidade há décadas. Pare e pense um pouco: Quanta felicidade a sua vida já lhe deu ou lhe trouxe?”
Escolhendo felicidade genuína.
Quando falamos em felicidade, estamos nos referindo a algo mais do que estimulação sensorial. Algo mais profundo, um bem estar profundo que vem de dentro. Felicidade genuína é um sintoma de uma mente balanceada assim como o sentimento de bem estar e prazer é sinônimo de um corpo saudável. Há uma crença geral na cultura de que o sofrimento é inerente à vida, que é da natureza humana experimentar frustração, depressão, e ansiedade. Muitas vezes nosso sofrimento mental não serve a causa nenhuma. É simplesmente sofrimento e desperdício. Sintoma de uma mente desbalanceada. Muito pouco no mundo externo nós podemos controlar. Colocar a condição de nossa felicidade num objeto externo é quase garantia de dor e frustração. Nosso primeiro ato de liberdade deveria ser escolher nossas prioridades com sabedoria.
Balanço conativo e escolha de prioridades.
Conação (tendência consciente para atuar – Aurélio) se refere a nossa faculdade de desejo e volição. Balanço ou imbalanço conativo: Elemento crucial de nossa saúde ou doença mental. Imbalanço são formas ou desejos que nos levam para longe da saúde psicológica e mental.
Três tipos de imbalanços conativos.
a. Déficit conativo. Experimentamos apatia frente ao desejo por felicidade. É acompanhada por uma falta de imaginação ou um tipo de estagnação. Não podemos imaginar nos sentirmos melhores do que nos sentimos agora; Então não há nada a fazer a respeito. Tira-nos o incentivo ao esforço.
b. Hiperatividade conativa. Desejos obsessivos obscurecem a percepção da realidade presente. Fantasias em relação ao futuro, desejos não realizados nos cegam ao que está aqui e agora.
c. Disfunção conativa. Nós realmente desejamos coisas que são prejudiciais tanto a mim quanto aos outros, e nós não desejamos as coisas que podem nos levar à realização. Craving (suplica , desejo ardente – Aurélio): Atração por algo cujas qualidades superestimamos e cujos defeitos subestimamos. Em outras palavras: Idealizamos.

Achando o tempo.
Maior impedimento para não meditar: Não encontrar tempo. Não temos tempo porque dedicamos tempo a outras coisas que elegemos como nossa prioridade. Muitas prioridades são nossas necessidades básicas. Outras se encaixam na descrição feita acima de “craving”. Peso, prazeres passageiros, honra e reputação. Escolhemos os símbolos da felicidade em troca da realização genuína da felicidade. A razão de não encontrarmos a felicidade é que estamos apostando nossas vidas nesses símbolos substitutos. O primeiro passo para sair desse círculo vicioso é vislumbrar um caminho que se encontra nas entranhas de minhas próprias possibilidades interiores. É por isso que cultivamos o amor-gentileza, primeiro para conosco mesmo, e depois para os que estão ao nosso redor.
Meditação do amor-gentileza.
1) Após o início tradicional:
2) Coloque a sua imaginação três perguntas: A primeira é: “O que eu adoraria receber do mundo para me ajudar a encontrar uma vida significativa, profunda e realizada?” deixe o desejo chegar e visualize-os sendo profundamente realizados. Agora visualize seus desejos por felicidade mais profundos. Imagine-os sendo realizados.
3) Segunda pergunta: “Qual tipo de pessoa eu gostaria de me tornar?” Que mudanças eu gostaria de ver acontecendo? Visualize as mudanças a curto e em longo prazo, acontecendo agora e aqui.
4) Terceira: “O que eu adoraria oferecer ao mundo, as pessoas em geral?” Imagine este sonho acontecendo agora e aqui.
5) Assim como você visualiza seus desejos mais profundos sendo realizados, visualize também todas as pessoas de sua vizinhança, amigos e todos os seres da terra também encontrando sua felicidade e sua realização. “Que cada um de vocês encontre sua própria realização!” Expanda seu amor-gentileza o máximo que conseguir.

Estágio dois: atenção contínua.
Para a maioria das pessoas no caminho meditativo, um dos maiores problemas é a excitação. Pode haver várias causas, como a raiva, o medo, viver num ambiente barulhento e agitado. Entretanto, o maior problema é o “craving” ou desejos mal direcionados. Os principais sintomas de uma mente tomada por “craving” são: insatisfação, cansaço, ansiedade. Podemos fugir desses sintomas indesejados mergulhando no trabalho, entreterimento, bate-papos, etc. Ou podemos olhar para o problema curando nossos imbalanços conativos através da meditação shamatha e do amor gentileza. Meditadores experientes detectaram três níveis de excitação:
a. Excitação grosseira (coarse).
b. Excitação mediana (médium).
c. Excitação sutil.

Quando a meditação grosseira toma a mente, nós simplesmente perdemos o contato com o objeto de atenção (respiração). No primeiro estágio, o nível de excitação grosseira é tão intenso que nós literalmente não experimentamos uma continuidade de atenção no nosso objeto. A mente pula de um objeto a outro caoticamente. Essa turbulência é superada apenas com prática persistente e bem feita, cultivando um senso profundo de relaxamento e leveza interior. Então, eventualmente, a mente começa a se aquietar e a experimentar momentos mais longos de atenção continuada.
Neste segundo estágio, a mente experimenta por mais tempo a sustentação da atenção num objeto escolhido. Mais ainda se perde com freqüência na excitação grosseira. Se você é capaz de manter a sua atenção no objeto por até um minuto, então você alcançou o segundo estágio.
Este estágio é alcançado pelo poder do pensamento. O desafio neste estágio é manter o interesse no objeto. Podemos fazer isso pensando na prática ou nas instruções entre as sessões. Numa etapa posterior, este tipo de pensamento poderia ser um intruso; mas nessa fase, pelo menos garante que você não está pensando em qualquer outra coisa!
Outra maneira de usar o poder do pensamento nessa fase é contar as respirações. É importante que, ao contar, você não perca o seu senso de relaxamento! A estabilidade de sua atenção deve emergir de uma mente relaxada, e não deve lutar contra ela!

Prática: Foco de atenção total na respiração para estabilizar a mente.

1) Crie uma base inicial de relaxamento. Inicie com a prática anterior por alguns minutos.

2) Vamos mudar o foco agora, do relaxamento para a criação de uma estabilidade da atenção, sem ficar fragmentado pela força dos pensamentos compulsivos.

3) Ao invés de estar atento a todas as sensações corporais, foque a atenção apenas no ar entrando e saindo, sua duração, e o intervalo entre esses movimentos.

4) Contagem: Focar e contar na inspiração (até dez).

5) Durante a expiração, deixe sua mente simplesmente deixar ir qualquer pensamento que tenha aparecido. Relaxe o esforço. Ative a atenção na inspiração; Desative na expiração. Meditação= Ato balanceado entre atenção e relaxamento. 32.

6) O objetivo de contar é inserir rápidos “lembradores” na prática. “Lembradores de lembrar”.

7) Não se trata de tentar “parar de pensar”. Primeiro, conquistamos o relaxamento. Depois, cultivamos a estabilidade mental no objeto, sobre o relaxamento.

8) Deixe os pensamentos aparecerem. Não se incomode com eles. Eles não são o ponto importante. Apenas faça o melhor que puder para não ser levado por eles.

9) O tipo de consciência cultivada aqui se chama “atenção simples/pobre (bare).” A mente simplesmente se fixa na sensação corporal, ao invés de fixar-se nos conceitos ou emoções ligadas as sensações.

10) Reconheça a diferença entre as sensações em si e as imagens mentais do corpo que aparecerem.

11) Pratique por 24 minutos. Tente contar do início ao fim, apenas no início, e apenas quando a mente se distrair.

Reflexões sobre a prática. 33

1) Em geral, quanto mais relaxados estamos, mais estável nossa atenção pode se tornar.

2) Esse relaxamento precisa ser balanceado com vigilância. Caso contrário, ele apenas nos conduz a uma letargia, um estado de sonhar acordado.

3) Assim que conseguimos estabelecer uma base de relaxamento na prática, devemos mudar o foco de prática para a estabilização da atenção.
4) Uma forma de cultivar a estabilização da mente é colocar o foco de atenção em nosso abdômen, vinculado as sensações de respiração nesse local.

5) Essa técnica é especialmente utilizada na tradição theravada burmese.

6) Outras tradições como Zen e Theravada encoraja a contagem com o objetivo de estabilizar a atenção.
7) Variações da técnica – 34.

8) Desconforto, dor. Normal. Lembretes de um sistema psicossomático desbalanceado. Relaxe e respire dentro das áreas de tensão no corpo.

Um estilo de vida atento.

1) Cognitive déficit disorder. Comum em toda a sociedade.

2) Mindlessness. Casos mais graves. Estado de leargia mental onde a vida passa sem que percebamos. Não lembramos mesmo do que acabou de acontecer.

3) “Cognitive hiperactivity disorder”. Projetamos coisas e falas no mundo, e assumimos que nossa projeção é real.

4) Se praticarmos 24 minutos por dia, e em seguida entregamo-nos aos dois tipos de desbalanços (hiperatividade ou letargia), nossa prática não será muito efetiva.

5) Momentos ao longo do dia e do trabalho em que podemos parar por 15 segundos ou um minuto para recolocar nossas mentes em balanço.

6) A qualidade que colocamos na mindfullness meditation pode ser colocada em qualquer atividade que use os cinco sentidos. Numa refeição, por exemplo. Usufruir a refeição com os cinco sentidos.

7) Em geral, nossa mente conceitual se sobrepõe às sensações de uma refeição.

8) A psicologia budista ensina que momento a momento, nossa atenção só é capaz de focar um único evento, um único campo de acontecimentos.

9) A atenção costuma pular rapidamente de um campo de eventos par outro, como um chimpanzé que tomou anfetaminas.

10) Durante estes eventos fulgazes, a mente tende a fazer o mundo ter sentido impondo sobre a realidade seus próprios conceitos e idéias pré-concebidas. Isto é necessário para o funcionamento no dia a dia.

11) Os problemas começam quando deixamos de ser capazes de reconhecer em que grau adicionamos à realidade à nossa bagagem conceitual.
12) Não existe multi-tarefas simultâneas. A experiência de atender a múltiplas coisas ao mesmo tempo é uma ilusão.

13) O que está acontecendo é que a atenção está se movendo rapidamente para frente e para trás.

14) Multi tarefas não é muito eficiente, por causa da qualidade da atenção colocada em cada tarefa.

15) A prática da atenção plena e focada é o oposto da multi-tarefas. “Se algo vale a pena ser feito, vale a pena ser feito bem, ou não ser feito.”

16) Ás vezes na vida é necessário fazer muitas coisas. Quando for o caso, faça com a atenção plena o mais possível.

Interlúdio – Compaixão.

1) Apego ao estado de mente que shamatta proporciona. Calma, paz, quietude. Isto pode se tornar uma indiferença apática em relação ao resto do mundo.

2) Indiferença não é sinal de felicidade e balanço mental.

3) Pessoas que se sentem insatisfeitos e entediados com a prática prolongada. A prática não produz gratificação imediata.

4) A palavra para meditação em sânscrito é “bhavana”, que significa “cultivo”.

5) De fato, cultivamos nossa mente de um jeito ou de outro, conforme usamos nossa atenção. A qualidade de nossa vida indica isso.

6) Julgamento, baixa estima, culpa. Quando praticamos, o fazemos com alguma expectativa. Se não progredimos conforme essa expectativa, ficamos impacientes, sentimos culpa. “mais uma falha para a nossa lista!”

7) Com prática gentil, descondicionamos nossa mente em relação a essas atitudes negativas (ego negativo/Eu tirano). Compaixão por si mesmo e pelos outros.

8) Sofremos porque nossa mente está desbalanceada, e não pela causa externa. Há pessoas infelizes nas condições de vida mais favoráveis, e outras felizes nas condições mais desfavoráveis.
9) Aprender o que nos traz real satisfação na vida. Sair do rodamoinho hedonista. Essa é a coisa mais compassiva que podemos fazer por nos mesmos.

10) Empatia: “sentir com” o outro. Alegrias, tristezas, etc.

11) Compaixão vai além da empatia. “Que você se liberte do sofrimento e das suas causas. Como posso ajudar?”.

Meditação da compaixão.

1) Começa com atenção plena na respiração.

2) Comece a sessão cultivando compaixão por você mesmo. Ver 41.

3) Direcione a atenção para alguém amado que esteja sofrendo física ou psicologicamente.

4) Presente mais precioso. Quando nos voltamos inteiramente para o outro, com um coração amoroso e compassivo.

5) Assuma a sua perspectiva da situação, e experimente as suas dificuldades. Pág.41.

6) Deseje que a pessoa tenha visão clara do caminho e se livre do sofrimento. Visualize isso acontecendo.

7) Estenda essa ação para todo o mundo humano, e depois não humano. 42.


Estágio três. Atenção ressurgente.

1) Aqui durante todas as sessões, sua atenção está à maior parte do tempo fixa no objeto de meditação.

2) Aqui, você estendeu a duração inicial da sessão de 24 minutos para provavelmente o dobro disso. Conforme sua atenção se estabiliza, vá aumentando a duração da sessão em três minutos.

3) Valorize mais a qualidade da sessão do que a quantidade. Sessão longa de baixa qualidade é perda de tempo. Também está desenvolvendo hábitos ruins difíceis de abandonar.

4) Neste estágio, a atenção já conseguiu uma boa estabilidade. Durante a sessão quase toda, a atenção permanece com o objeto. No segundo estágio, muitas vezes conseguimos permanecer por até um minuto focado no objeto, mas ainda nos distraímos com facilidade. Há ainda lapsos em que esquecemos completamente.

5) A atenção permanece no objeto virtualmente em todas as sessões!

6) Para a maioria das pessoas, o problema principal desse estágio ainda é a excitação coarcitiva.

7) Letargia mental se manifesta em três níveis: Coarsiva (alta), média e sutil.

8) Nestes estágios, ainda estamos lidando com letargia coarsiva (alta), em que a mente se desengaja totalmente do objeto, “sai de férias”!

9) Este estado de letargia coarciva pode ser muito pacífico. Pode não haver pensamentos ou sentimentos. É uma anestesia. Meditadores tibetanos relatam que este estado pode levar a um embrutecimento da inteligência. A acuidade de sua mente começa a atrofiar. No longo prazo, pode causar sérios danos.

10) Exemplo de um amigo que quis parar de pensar.

11) Introspecção: Capacidade de detectar quando a mente começa a entrar nos estados de excitação e laxação. No momento que detecta, já toma as medidas para restabelecer o balanço.

12) Aos poucos, os pensamentos compulsivos vão diminuindo. Não tente bloqueá-los! Deixe-os e refoque a atenção no objeto.

13) Muitas pessoas conseguem atingir o segundo estágio fazendo uma ou duas sessões por dia. Entretanto, a estabilidade conquistada será perdida ao longo dos afazeres diários.

14) A prática aumenta a resistência e imunidade psicológica no dia a dia.

15) Se você está apenas praticando uma ou duas vezes por dia, você não conseguirá ultrapassar o segundo estágio. A razão é simples: Você está balanceando sua mente uma hora por dia, e mergulhando numa vida fragmentada nas outras quinze horas do dia!

16) Para atingir o terceiro estágio, é necessário um compromisso bem maior com a prática. Múltiplas sessões durante o dia. Ter um estilo de vida quieto, contemplativo e tranqüilo, que suporte e ajude na prática.

17) O segredo do sucesso é conduzir sua vida entre as sessões de uma forma que você não perca terreno.

Prática. Atenção plena na respiração (com vivacidade de consciência). 45.
1) Inicie normalmente a prática, como anteriormente descrita. Mantenham em mente as três qualidades corporais de relaxamento, quietude e vigilância.

2) Dê três lentas e profundas inspiradas, primeiro no abdômen, e depois no peito. Deixe a respiração seguir seu ritmo natural.

3) Primeira ênfase: Relaxamento a mente (observar as sensações de respiração ao longo do corpo). Segunda ênfase: Estabilidade da atenção (observar a respiração na barriga). Terceira ênfase: Cultivar a vivacidade da atenção.

4) É especialmente importante que a estabilidade não seja conquistada à custa do relaxamento, e que o aumento em vivacidade não coincida com a diminuição da estabilidade.

5) Analogia da raiz, caule e folhas. Todos vão se fortalecendo com o acúmulo de prática.

6) Para aumentar a vivacidade: Aumente o foco de atenção e o direcione a um objeto mais sutil.

7) Direcione sua atenção à sensação das narinas ou acima de seu lábio superior. Há uma miríade de sensações sutis ocorrendo durante a respiração nessa área. Procure manter o foco ali o mais que puder.

8) Observe essas sensações mesmo entre as respirações.

9) Se você não puder detectar as sensações mais, ou se sua respiração ficar tão sutil que se torna difícil detectá-la, então aquiete sua mente e observe ainda mais atentamente. Eventualmente as sensações da respiração se tornarão evidentes de novo.
10) Aumente sua capacidade de introspecção, de forma que se excitação ou letargia aparecerem de novo, você rapidamente tome as medidas necessárias para restabelecer o balanço novamente.

11) Pratique por 24 minutos e encerre a sessão.

Reflexões sobre a prática.

1) Comentário de Buda sobre concentração da mente: Ela traz paz e dispersa os estados negativos assim que eles aparecem. 47.

2) Benefícios de uma mente em estado de balanceamento. “Todo pensamento ruim se dispersa”.

3) Assim como o corpo, a mente se cura sozinha. Ao permitirmos que ela mantenha seu foco de concentração em um objeto como a respiração, ela inicia seu próprio processo de auto-cura.

4) Três variações para técnica de contagem. 47. Neste estágio, “Coarse excitation” ainda é o maior problema. Então, a contagem pode ajudar.

5) Quando sua estabilidade de atenção crescer a ponto de você conseguir manter a atenção no objeto, pare de contar.

6) Algumas pessoas simplesmente não necessitam contagem para atingir estabilidade da mente. Nestes casos, não precisam ser incomodadas com esta técnica.

7) Com a prática, a respiração e suas sensações vão ficando mais sutis e fracas. Chega a um ponto em que simplesmente não podemos detectá-la. Isto desafia sua capacidade e vivacidade de atenção para detectá-las. É preciso prestar mais e mais atenção a fim de permanecer engajado mentalmente nesta tarefa!

8) Efeito de biofeedback: Se sua mente se perder em excitação coarciva, isso criará distúrbios e sensações em seu sistema, que são fáceis de detectar.

9) Sensações da prática: Braços pesados ou cobertos. O corpo se sente muito grande. Você sente que está flutuando ou levitando. Visão telescópica. Ver seu corpo de uma distancia. Energias vitais se movendo no corpo, movendo ou liberando tensões.


10) Não se preocupe ou faça muito destas sensações. São conseqüências naturais da prática.

11) Nesta prática, ao contrário do que acontece em tarefas direcionadas com metas, quanto mais aumenta o foco, mais a mente relaxa.

12) Conforme se avança na prática, diminua o numero de sessões e aumente o tempo de cada sessão. Prefira sempre qualidade à quantidade.

13) Continuidade ininterrupta da prática é essencial. Analogia de iniciar uma fogueira friccionando dois pauzinhos.

14) Se você está pensando em atravessar os nove estágios, a forma testada pelo tempo de ter sucesso é radicalmente simplificar sua vida, se recolher temporariamente em solidão, e devotar a si mesmo tempo integral à prática por longos períodos de tempo. 49.

Um estilo de vida atento. 49.

1) O maior desafio desse estágio é alcançar um estilo de vida que dê suporte ao cultivo da atenção balanceada, ao invés de erodi-la no intervalo entre as práticas.

2) Para atingir o estágio três, o meditador precisará assumir um sério compromisso com a sua prática, passando dias ou semanas, em meio a uma vida serena, num ambiente quieto.

3) Sem isso, podemos “esbarrar” no estágio três, mas teremos dificuldades em estabilizar a mente neste estágio. O dia a dia turbulento deixa a mente fragmentada, e a coerência ganha na prática será perdida.

4) A vida social vive nos lembrando de que somos “criaturas sociais”, e não dá nenhum encorajamento para uma pessoa passar longos períodos em solitude. É mais provável você ser visto como uma pessoa desequilibrada e desajustada do que alguém tentando alcançar balanço da mente.

5) Porque as pessoas acham solitude estressante? Por que com ela ficamos cara a cara com nossa mente desbalanceada, sem distrações ou escape (Ver método do “Grito primal” – Janov).

6) Solidão contemplativa não causa desbalanceamento, apenas o coloca à mostra.

7) Requer coragem para enfrentar os próprios demônios internos e superar as crises emocionais que virão.


Preparando uma “expedição” (retiro).

1) Problemas com a palavra “retiro”. Remete a atitude de isolamento premeditado e a defesa.

2) Expedição remete à aventura, conquista; exploração.

3) Não requer fé cega, ideologia religiosa. Ao longo dos séculos, pessoas de várias religiões têm praticado e reportado seus ganhos e resultados.

4) Repetir a trajetória de quem já à fez significa ganhar tempo.

5) Seis pré-requisitos para quem quer fazer a travessia: A seguir.

a. Ambiente adequado que promove a prática. 51. É importante praticar num lugar seguro, com outras pessoas com os mesmos propósitos. Pode ser muito difícil de encontrar. É preciso criar tais locais no mundo moderno.

b. Ter poucos desejos (2) e permanecer contente (3). Ter poucos desejos por coisas que você não tem, e ficar satisfeito e contente com as coisas que você tem.

c. Ter poucas atividades. Para que a qualidade do tempo entre as práticas não seja perdida. A ênfase da cultura de hoje é permanecer ocupado!

d. Disciplina ética. É muito mais do que apenas seguir as regras sociais e leis vigentes. Ética com o ambiente social e natural. Significa não causar dano ou mal ao ambiente, aos outros. Conceito de ética psicológica. Manter uma atitude de não causar sofrimento aos outros, não evocar negatividades nos outros.

e. Pensamentos compulsivos. Cuidar. Observá-los quando aparecem. Eles agravam o desbalanceamento mental.

Interlúdio: Alegria empática.

1) Quando entra no retiro: Alívio por deixar a sua maneira normal de viver.

2) Após essa “lua de mel” inicial, o trabalho duro de treinar a mente começa.

3) O estilo de vida de retiro pode causar fortes reações mentais e físicas. (Não há para onde fugir ou como se perder em letargia, distrações).

4) Nós estamos viciados em estímulos prazerosos. Quando passamos horas meditando sem intervalos para distração, podemos ter sintomas de “afastamento” (withdrawal simptoms). A mente oscila entre tédio e cansaço, e às vezes pode se transformar em depressão e autodúvida. Nesses momentos, temos a tendência a nos fixar em idéias e memórias que reforçam esse vício.

5) Alegria empática: reflexão tira a mente do foco do vicio perdido.

6) Colocar o foco nas virtudes, sucessos, felicidades e vitórias dos outros. Empatia é sentir com o outro.

Meditação com alegria empática.

1) Começar como sempre.

2) Traga a mente uma pessoa que exale bem estar e boa companhia. Visualize a presença, ações e palavras dessa pessoa nesse momento.

3) Enquanto foca na pessoa, abra seu coração para ela e se deixe deleitar com ela. Isso será fácil se você for próximo a ela. 58.

4) Traga a mente agora outro individuo. Alguém para quem algo maravilhoso aconteceu, recentemente ou no passado. Lembre-se da alegria dessa pessoa e compartilhe desse sentimento.

5) Agora traga a mente para sua vida. Sua uma alegria empática por suas próprias virtudes. Pense nas vezes em que você abraçou seus próprios ideais. Delicie-se com elas. Não é preciso ser pomposo, arrogante ou orgulhoso. Ao se lembrar das pessoas que ajudaram a alcançar seus êxitos, sinta-se grato e alegre. Isso evita de você sentir superioridade.

6) Algumas práticas são difíceis, mas essa é fácil. Ao longo do dia, ao presenciar alguém tendo sucesso e exercendo uma virtude, fique alegre com a pessoa (tire alegria dessa situação).



Estágio quatro. Atenção próxima (close attention).

1) Neste ponto, você não esquece mais do seu objeto de atenção (no caso, as sensações na narina da respiração).

2) Você pode ter já sentido flashes desse estágio antes, mas agora ele se torna normal.

3) Cada uma de suas sessões dura agora em média uma hora ou mais, e durante esse tempo, sua atenção não pode mais ser tirada do objeto escolhido. Você está agora livre da excitação coarcitiva. É como se a atenção tivesse adquirido um tipo de peso gravitacional, de forma que não é mais tão fácil desestabilizá-la.

4) Nesse ponto, diz-se que você atingiu o “poder da atenção plena” (power of midfullness), de acordo com a tradição indiana e tibetana do budismo “ Mahayana”.

5) Esse poder age como base para o foco de atenção em um único ponto, conhecido como “Samadhi”.

6) Atualmente, psicólogos tem conduzido pesquisa sobre a atenção plena, como fator de redução de stress, depressão e alívio de problemas mentais e físicos. Eles têm caracterizado a “atenção plena” de forma diferente da original:

a. “Um tipo de consciência não elaborativa, não julgadora, centrada no presente em que cada pensamento, sentimento ou sensação é reconhecida e aceita tal como é.”

b. Essa definição é baseada nas descrições de atenção plena do Vipassana (insight contemplativo) da tradição do Theravada, é bem diferente da nossa aqui abordada.

c. Enquanto uma é uma atenção simples ou leve, flutuante, que não categoriza experiências, no Mahayana significa manter o objeto de atenção, um estado de não esquecimento, não ficar distraído, e não flutuar.

d. Citação de Gunaratana e seu “Mindfullness in plain english”. Descrição de mindfullness: Lembrar-se do professor do primário é memória. Lembrar-se da lembrança do professor do primário é mindfullness.

e. Descrição do próprio Buda de mindfullness: Ele usava a expressão “sati”. “É aquele que se lembra o que foi dito e o que foi feito há muito tempo atrás!” “Esse monge tem sati”.

f. Enquanto uma definição insiste que se fica para sempre no presente, a outra insiste que se pode lembrar-se de eventos há muito acontecidos.

g. O termo Pali “Sati” significa “memória”.

h. Memória retrospectiva e prospectiva. Lembrar-se de fatos presentes e futuros.

i. “Milindapanha”- Literatura Budista: Explicação de Sati do monge Nagasena: Chamar à mente e manter na mente. Aqui nesta versão (mais antiga - autoritária), “Sati” é usado para distinguir na mente as tendências úteis e não úteis; positivas e negativas, benéficas e não benéficas etc.

j. Monge Buddhaghosa – a maior autoridade da tradição Theravada: “Sati não é flutuar; Sua propriedade é não perder contato face a face com o objeto escolhido.”

k. A prática moderna de “mindfullness” tem valor, como descobriram seus milhares de praticantes.

7) Atenção plena (mindfullness) é cultivada na prática de Shamatha, e é aplicada na prática de insight contemplativo (em pali: Vipassana; em sânscrito: vipashyana). Isto é claramente apresentado por Buda em seu discurso da pratica do insight contemplativo.

a. Em sua matriz de práticas de insight, a atenção plena que discerne é direcionada ao corpo, mente, sentimentos, estados mentais e processos, e aos fenômenos em geral (externos).

b. Trata-se de uma ciência complexa, pois Buda conduz através da investigação da origem, presença, eficácia causal e dissolução de cada um desses domínios de experiência.

c. É muito mais do que uma atenção simples, como descrita nos estudos psicológicos modernos.

8) No quarto estágio, atinge-se atenção plena (mindfulness), e a prática parece adquirir vida própria e ir sozinha.

9) Não há mais excitação coercitiva, mas há ainda algum grau de excitação e letargia coercitiva.

10) Quando essa coerção média ocorre, é como se nós desintonizássemos o rádio, mas não completamente, de forma que ainda podemos ouvir sua programação no fundo. (No caso mais grosseiro, é como se de sintonizássemos completamente!).

11) Alcançar esse estágio trará um senso de conquista. Já não se é mais um iniciante! Se não se tem visão clara de todos os nove estágios de shamatha, pode-se acreditar que se chegou ao estágio mais alto! Pode trazer complacência com a prática (preguiça e acomodação).

A prática – Atenção plena com o sinal adquirido. 63 a 68.

1) Não deu tempo!

Interlúdio - Equanimidade - 69 a 73.

Comentários: Esses primeiros estágios têm como meta principal conquistar mindfulness, a atenção plena. Primeiro, a estabilidade da mente, e em seguida um tipo de vivacidade, como uma imagem com mais “pixels” de cada momento.

Os estágios intermediários – Fixando a mente.

Estágio cinco: Atenção humilde/dócil/domesticada.

Introdução.

1) Com a prática ininterrupta, atingimos o estágio cinco.

2) Tiramos satisfação da prática, embora ainda haja alguma resistência a ela.

3) Pensamentos involuntários agora fluem como um riacho pelo vale.

4) Entre os estágios quatro e cinco um dos maiores desafios de todo o caminho de shamata: Letargia coarcitiva. A sua atenção sucumbe ao sono, à inatividade, embotamento, estagnação. A atenção, ao invés de “subir” até o objeto, recua para os recessos da mente.

5) Esse é um estado de mente pacifico, e o ignorante pode confundi-lo com shamhata. A vividez da verdadeira shamata vai muito além do que se atinge nesse estágio.

6) Desafio: Superar a letargia coarcitiva sem desestabilizar sua atenção. Além do persistente problema da excitação média (pensamentos involuntários ocupam o centro da atenção, enquanto o objeto de atenção vai para a periferia), há a tarefa de reconhecer e contra-atuar a letargia média.

7) Quando essa letargia média emerge, o objeto de atenção não é perdido, mas não tem muita vividez. Isto é sutilmente diferente da letargia coarcitiva. Tem que aprender a diferenciar na prática.

8) Desafio central: Superar a letargia sem minar a estabilidade. Para vencer, é preciso erguer a atenção, ter um grande interesse no objeto de meditação. Professores tibetanos comparam isso a afinar um alaúde.

9) O desafio é determinar a exata “afinação” da mente. Se erguer muito, para fugir da letargia, ela pode cair em excitação; Se erguer de menos vai sucumbir à letargia.

10) O único jeito é vivenciar por si mesmo e determinar por si mesmo o exato ponto de atenção. Budistas relatam a dificuldade disso por milênios, e dizem que requer grande habilidade.

11) Tendo atingido o terceiro e quarto estágio com o poder da atenção plena (mindfullness), o poder da introspecção – Faz atingir o quinto estágio.

12) Poder da Introspecção: Poder de monitorar a qualidade da minha atenção, aperfeiçoá-lo para detectar graus mais e mais sutis de letargia e excitação.

13) Explicação de Buda: Observar a mente, os desejos.78.

14) Budhaghosa: Mindfulness tem a qualidade de lembrar, de memória. Sua função é não esquecer. Montar guarda. Introspecção tem a característica de não confusão. Sua função é investigar. Manifesta-se como escrutínio.

15) Asanga: Mindfulness: Impede que a atenção se perca do objeto de meditação; Introspecção: Reconhece que a atenção está se perdendo.

16) Shantideva: A função da introspecção é o constante exame da mente e do corpo.

17) Ao longo da literatura budista, o treinamento da atenção é comparado ao treinamento de um elefante selvagem. E os dois principais instrumentos para esse treinamento são a atenção plena (Mindfulness) e a introspecção.

18) A psicologia budista vê a introspecção como um tipo de inteligência/habilidade. Modernos psicólogos cognitivos chamam uma habilidade semelhante de meta cognição.

19) Meta cognição: A habilidade de conhecer e observar os próprios processos e estados mentais e afetivos, assim como a habilidade de monitorar e regular esses processos e estados.

20) Encruzilhada no caminho, nesta altura: Continuar com Mindfulness ou mudar de abordagem. Há méritos nas duas abordagens.

21) É muito fácil ficar entediado com a abordagem escolhida e ser seduzido por uma abordagem cheia de coisas interessantes, luzes e fenômenos psíquicos. O perigo é que, ao trocar constantemente, não se chegue à proficiência em nenhuma técnica.

22) O autor sugere que, após se alcançar o quarto estágio em shamhata, mudemos para a técnica “fixar a mente em seu estado natural”. Esta técnica prepara você diretamente para Mahamudra e para Dzogchen, duas tradições que estão focadas na realização da natureza da consciência.

23) Seguem comentários sobre a eficácia e valor da prática.

24) Você pode começar a prática de shamhata com essa prática e ir até o final com ela. Não é necessário praticar mindfulness da respiração primeiro. Para muitas pessoas, praticar com mindfulness pode ser mais efetivo nesses primeiros quatro estágios.

25) Muitas pessoas praticam meditação para atingir estados alterados de consciência. De uma perspectiva budista, o estado da mente comum, cheio de desbalanços, já é um estado alterado!

26) Essa prática (fixando a mente em seu estado natural) é projetada para libertar nossa mente dos seus habituais estados de perturbação, deixando a mente gradualmente pousar em seu estado natural, seu chão.

27) Três qualidades do estado natural da mente: Felicidade/alegria (Bliss), luminosidade, não-conceitualidade. Para o autor essa é uma das mais importantes descobertas dos budistas sobre a natureza da consciência.

28) Segue descrição da prática do mestre Dzogchen Lerab Lingpa, do século desenove:

Prática – Fixando a mente em seu estado natural. 81 a 83

Reflexões sobre a prática.

1) O objeto da atenção plena (mindfullness) não é mais a respiração, mas o espaço da mente, e o que quer que aterrise nesse espaço.

2) O objeto da introspecção é a qualidade da atenção com a qual você observa a mente.

3) Fixar a mente sem distração e sem desejo/aversão. Não permitir que sua atenção seja levada por pensamentos ou impressões sensoriais. Ficar aqui e agora; Não ser abduzido pelo passado ou pelo futuro.

4) Conforme você se engaja nesse caminho, não seja um “caroneiro” dos pensamentos. Seja mais como um falcão, que aponta seu bico em direção ao vento, e com a cauda e as asas faz os ajustes para se manter na rota.

5) Desafio: Estar atento a tudo o que aparece na mente, mas ao mesmo tempo não se prender a nenhum deles. Não se identifique com nenhum deles.

6) Faça sua mente ser como o céu claro e azul. Acolhe a tudo, mas não reage.

7) Ocasionalmente, você se distrairá, e você viverá a experiência de cair de uma consciência luminosa para a mente dualista. Esta queda, como a queda do paraíso, ocorre agora mesmo, na prática, cada vez que caímos da nossa natureza real para a mente dualista.

8) Instrução essencial para excitação e letargia: Aumente a duração das sessões: Se sono vier, emerge sua consciência; Se excitação vier, abaixe-a. deixe a estabilidade mental emergir naturalmente, e não de modo forçado. Este é o desafio característico entre os estágios quatro e cinco.

Interlúdio – Tonglen, dar e receber.

Estágio seis – Atenção pacificada.

1) Após milhares de horas de treino rigoroso, alcançamos o estágio seis. Ele é atingido pelo poder da introspecção, e não experimentamos mais resistência ao treinamento.

2) Ainda é preciso estar em guarda contra a ocorrência da letargia média, mas ela já não é muito vívida.

3) Você está agora pronto para detectar as excitações sutis, em que o objeto da meditação permanece no centro da atenção, mas pensamentos involuntários ainda emergem na periferia.

4) É como sintonizar uma estação desejada, mas fracamente ainda escutar a estação vizinha, ou estática, ao mesmo tempo. A qualidade de atenção que você está buscando aqui é um canal claro, absolutamente livre de qualquer ruído.

5) Nesse estágio, pensamentos involuntários ainda cruzam a consciência como um rio cruza lentamente um vale.

6) Parecem borboletas (os pensamentos), leves, atravessando o espaço da consciência. Brincam e se desvanecem. Eles têm menos peso, então menos poder de atrair ou puxar a atenção.

7) Parece que o “espaço físico da mente é preenchido por corpos de pensamento” (analogia com Einstein).


8) Assuntos triviais parecem adquirir uma importância grande ou enorme. Não é que eles se tornaram enormes; Nossas mentes é que se tornou menor!

9) Para manter os eventos na mente em perspectiva, mantenha o espaço da consciência o mais expandido possível. Com o tempo, quanto menos você forçar ou desejar (to grasp) em seus eventos mentais, menos o espaço da mente se contrairá ao redor daquilo e será dobrado por eles.

10) Miríades de emoções e outros estados físicos e mentais podem aparecer muitos deles inesperadamente. Essa prática é conhecida por revelar ou des-reprimir conteúdos da mente, que podem variar enormemente de uma pessoa para outra. Não dá para prever o que virá para você.

11) Um dos maiores desafios na prática é a emergência do medo. Ao soltar o fluxo mental, você está minando o seu senso normal de identidade pessoal, que é reforçado constantemente pelo fluxo de pensamentos, que chama e se lembra de eventos pessoais, esperanças e planos. Você está agora se desgarrando desses suportes familiares.

12) Conforme os intervalos entre os pensamentos aumentam de tamanho e duração, a consciência mergulha num tipo de vácuo, ou espaço vazio, desqualificado de personalidade. Você vai entrar nos domínios do medo conforme o seu senso de eu for perdendo o chão.

13) O mestre Gen Lamrimpa avisa seus estudantes que é crucial não se identificar com isso, não dar a isso nenhum credito. Alguns medos são baseados na realidade. Protegem-nos de perigos, nos enchendo de energia para lutar ou fugir.

14) Esse medo (dread) não tem nenhuma base na realidade. Não há nenhum perigo no espaço vazio, limpo e luminoso da consciência. Você não tem nada a perder a não ser o seu senso falso de independência e controle egoico. A única coisa ameaçada é uma ilusão. Se você não se identificar com isso, não há nada a perder.

15) Se você se identificar com esse medo, você pode trazer a sua prática inteira para uma parada triturante, que gerarão profundos desbalanços emocionais.

16) Então, é fundamental que se observe tal medo sem distração e sem desejo/aversão. Mantenha as bases essenciais da prática.


17) Depressão pode aparecer, ligada a culpa e a um sentimento de baixa auto-estima.

18) Tratar esses sentimentos como qualquer outra manifestação da consciência. Observar ele emergir, olhar enquanto ele dura, e observa ele desaparecer de volta no espaço da mente. Examine essas coisas com uma inteligência discernidora, mas sem peso emocional, sem identificar-se ou sentir que aquilo é seu. Mesmo sem desejar que aquilo vá embora. Deixe o espaço da sua mente emocionalmente neutro, como um espaço físico, que não poderia se importar menos se balas de revolver ou pássaros cruzam seu espaço.

Prática – Fixando a mente em seu estado natural – Sondando as profundezas.

1) No inicio da prática de “fixar a mente em seu estado natural”, podemos ter dificuldade em identificar o intangível domínio da mente. Ou mesmo se você realmente fixar a atenção lá, após um tempo ela pode ficar vaga, desorientada, ou ausente.

2) Se você tiver essa dificuldade, traga conscientemente o pensamento: “O que é a mente?”, e fique com ele. Não pense sobre a pergunta ou tente respondê-la. Apenas observe o pensamento em si, vendo-o emergir dos confins da mente e voltar para lá. Uma vez que ele se foi, mantenha a atenção ali onde o pensamento estava, e veja o que vem em seguida. Se você deslizar de volta para um tipo de letargia, deliberadamente gere o pensamento de novo, e observe-o com uma atenção mais rasa.

3) Quando você se tornar familiar com essa prática, você não vai mais precisar gerar um pensamento para cristalizar sua consciência e localizar sua atenção. Isso acontecerá por si mesmo.

4) A prática de prestar atenção ao espaço da mente pode ser comparada a uma viagem de um naturalista para um campo selvagem. Quando você primeiro embarcar nessa viagem, você será capaz de observar muito pouco. Conforme você continuar, você vai começar a identificar um número cada vez maior de fenômenos mentais. Alguns deles são discretos, como pensamentos e imagens, enquanto outros são nebulosos, como emoções e estados de animo. Essa prática prove você a possibilidade de experimentar um domínio que não pode ser alcançado por nenhum instrumento científico.

5) Com a prática, o lócus da atenção/consciência aos poucos desce do nível superficial da mente, em que prevalece a atividade coarciva mental que é imediatamente acessível pela introspecção para os recessos mais profundos da mente, em geral abaixo do nível consciente. Você descobre que a fronteira entre o inconsciente e o consciente muda, de acordo com os níveis de relaxamento, estabilidade e vividez da atenção. Especialmente se você se engaja nessa prática por muitas horas diárias, por meses a fio, você descerá para as profundezas da sua mente. Ao fazê-lo, você se lembrará de experiências a muito esquecidas, e uma gama grande de desejos e emoções.

6) O que acontece aqui é um tipo de livre associação, luminosa, clara, discernitiva, de pensamentos, imagens mentais, memórias, desejos, fantasias e emoções. Você está descendo às profundezas da mente, sem se distrair com as diversões externas.

7) Esse é um tipo especialmente poderoso de terapia profunda, e quanto mais intensivo for o treinamento, mais importante é a presença e orientação de um mestre experiente e compassivo. 102.

8) Este é o caminho para a profunda sanidade. Conforme material emerge, apenas testemunhe, sem julgamento ou intervenção de sua parte. Esta é a chave para a mente curar-se a si mesma.

Reflexões sobre a prática – 103.

1) No inicio do treinamento de um ano que ocorreu em Washington, em 1988, Gen Lamrimpa alertou os participantes que eles poderiam experienciar visões de demônios e outras terríveis aparições.

2) Muitos tibetanos têm relatado experiências com demônios quando em prolongados retiros.

3) Os ocidentais e americanos tiveram que lidar com luxuria, arrogância espiritual, medo, tédio, auto-dúvida, culpa e baixa auto-estima.

4) Comparação entre o demônio europeu do séc. XVII. Demônios eram externos, reais no mundo real, e infernizavam a vida das pessoas. A questão da existência dos demônios era tema de discussões cientificas. Issac Newton sugeriu que o reino dos demônios era a mente humana. Com isso, livrou a natureza de estar à mercê dessas forças.

5) Perspectiva budista: Demônios não são nem totalmente objetivos nem totalmente subjetivos. Eles aterrisam no lugar entre a objetividade e a subjetividade.

6) Na prática, demônios podem aparecer na sua consciência como fruto da prática correta. Pode contar com isso!

7) No Tibete, quando demônios aparecem, as pessoas vão ao médico. Se não há nada, o próximo passo é ir ao astrólogo. Se essa falha, então se vai a um psíquico.

8) Segundo o autor, se demônios aterrisam, a única solução é fazer a faxina mental, há neuroses que não estão sendo vistas. A única solução é enfrentar o problema.

9) Permita aos demônios aterrisarem na consciência, mostrarem-se totalmente, e depois esvaecerem na imensidão. Sem prender-se a eles ou bani-los do campo de percepção. Essa é a prática de permitir a mente curar-se a si mesmo.

10) Lingpa: “The Vajra Essence”: Os demônios têm existência apenas em sua mente. Não são seres independentes em existência, não são seres sobrenaturais.

11) Muitos manuais budistas de meditação deixam a desejar ao tentarem descrever o que acontece no processo da prática. Eles falam o que eventualmente acontece; não o que certamente e usualmente acontece. The Vajra Essence é uma exceção. No inicio, ele descreve uma vasta gama de situações que podem ocorrer no caminho. Ele diz, por exemplo, que não há nenhuma consistência entre o que acontece com um individuo e o que acontece com outro. Cada mente é tão complexa que não há modo de prever com confiança o que vai acontecer.

12) Lista de coisas que podem acontecer, principalmente se a prática for feita em solidão por meses a fio:

o A impressão de que todos os seus pensamentos estão criando violentos distúrbios na sua mente e corpo, como uma avalanche de pedras descendo a encosta de uma montanha, destruindo tudo e seu caminho.

o Uma dor afiada na sua cabeça como resultado de seus pensamentos, como se você tivesse sido espetado pela ponta de uma agulha.

o A sensação de imobilidade mental é prazerosa, mas todo movimento é doloroso.

o A percepção de todos os fenômenos como partículas coloridas e brilhantes.

o Dor intolerável da ponta do fio de cabelo ao dedinho do pé.

o O senso de que até comida e bebida são prejudiciais. Devido ao fato de que seu corpo ter sido aflingido por uma variedade de desordens físicas.
o Inexplicável senso de paranóia quanto a encontrar outras pessoas, visitar suas casas, ou estar em lugares públicos.
o Busca compulsiva de tratamentos médicos, astrologia e adivinhações.
o Sentimento de que seu coração vai explodir.
o Segue uma lista de mais duas páginas. Ver 106, 107.


13) Enquanto a maior parte de nós pararia a prática e iríamos ao médico, Lingpa chama esses sintomas de sinais de progresso! É progresso quando você percebe o quanto atribulada a sua mente está!

14) Quanto mais profundamente entramos nas profundesas da mente, mais e mais encontramos todo tipo de coisas inesperadas, memórias e impulsos problemáticos que se manifestam psicológica e fisicamente. Esses sintomas às vezes são tão fortes que cuidados médicos podem ser necessários.

15) Lingpa aconselha a continuar a prática. É o caminho à frente. “não há outro modo de avançar pela mente a não ser através das neuroses e dos desbalanços.

16) É um consolo saber que nenhum desses desbalanços foi introduzido pela prática da meditação. O que quer que emerja, já estava ali antes.

17) Lingpa e as tendências gerais de acordo com os cinco tipos psicológicos diferentes (Sistema do Budismo Tibetano): Pág. 108.

18) Uma vez que todos os desbalanços são superados, o que resta é uma sensação de luminosidade, alegria e não-conceitualidade.

19) Então todos os pensamentos, agora livres e desapegados, não tendo mais nada a ver com você, perdem sua capacidade de causar dano ou beneficio.

Interlúdio: Sonho Lúcido. Prática de dia. 111.


Estágio sete. Atenção totalmente pacificada.

Introdução.

1) Asangha: Melancolia, apegos, quando emergem, são totalmente pacificados.

2) Estas experiências continuam ocorrendo de tempos em tempos, mas elas perdem o poder de tirar o equilíbrio da mente.

3) Os pensamentos continuam a correr pelo rio lentamente em direção ao vale. Mas, não há mais nada a que a mente possa se segurar, e tais conteúdos não têm mais nenhum poder de afligir você.

4) Entusiasmo: O poder necessário para atingir o estágio sete. A prática agora enche você de alegria. É isso que o motiva a ir em frente: Encarar as sutilezas cada vez maiores.

5) Tendo superado a letargia média, a letargia sutil permanece (objeto aparece vividamente, mas a sua atenção está um pouquinho aquém).

6) Apenas o meditador avançado é capaz de detectar esse nível de letargia. Apenas com um alto grau de vividez que só o treinamento mental propicia.

7) Como antes, quando a letargia chegar, levante sua atenção; Quando a excitação vier, abaixe-a um pouco.

8) No estágio sete, os desbalanços sutis são facilmente reconhecidos e remediados/corrigidos pela sua introspecção.

9) Palavra tibetana “Gom” (Traduzida no ocidente como “meditação”) denota “familiaridade”. Traduz bem a qualidade da experiência do estágio sete.

10) “Você aqui se tornou um forte adepto do ato de balançar e refinar sua atenção e o restante da jornada para sua realização em shamatha está à caminho.”

11) Neste estágio, sua mente está tão refinada que sua sessão de meditação pode durar até duas horas com minúsculas interrupções de letargia ou excitação.

12) Nas duas práticas que introduzi ( atenção plena e deixar a mente no estado natural) o fazer é fazer menos e menos. Entretanto, enquanto a atenção plena escolhe a mente vazia, a última não escolhe nada, aceita tudo como é neste momento. 118.

A prática: Observando o movimento da mente. 118.

1) O autor cita dois importantes lamas que vão nos orientar aqui.

2) “Quando o pensamento chegar, reconheça como e para onde está se movendo. Foque atenção observando a natureza do pensamento. Ao fazer isso, eventualmente o movimento cessa e há só espaço vazio, como um vôo de um corvo sobre o mar. 119 (Técnica de navegação indiana antiga). É crucial observar o movimento do pensamento sem interferir ou modificá-lo.

Reflexões sobre a prática. 119.

1) A prática do “colocar a mente em seu estado natural”, ensinada aqui é semelhante à prática “Mindfullness” da psicologia moderna, discutida no capítulo quatro.

2) Para os budistas indianos e tibetanos, “colocar a mente em seu estado natural” é uma técnica específica para se desenvolver “shamatha”. Não é insight contemplativo, ou meditação contemplativa, ou “vipashyana”.

3) Gutaratana (Tradição Vipassana): “Samadhi”, ou concentração, é a capacidade da mente de focar atenção sem interrupção num único ponto. Para ele, mindfulness é a capacidade mental de perceber que houve distração. É “mindfulness” que redireciona a atenção para a prática. Para ele, concentração é igual ao mindfulness de Wallace. E Mindfulness é a introspecção de Wallace.

4) Ainda Gunaratana: “Shamatha” proporciona alívio temporário das aflições mentais, apego e hostilidade. A liberação total, entretanto, requer prática do “insight meditation”, ou vipashyana, que resulta em sabedoria. Sabedoria + Shamatha= Nirvana. Apenas um , não ilumina (Lição para Pathwork, que não trabalha “Shamatha”).

5) O caminho óctuplo:

a. Esforço correto, concentração correta, atenção plena correta conduzem a Shamatha.
b. Pensamento correto, visão correta conduzem à sabedoria/vipashyana.

6) Para atingir o Vipashyana/insight que resulta em liberdade, é preciso praticar a grande clareza do pensamento, como um cientista que usa hipóteses para conduzir experimentos. A pratica da meditação desvinculada de visão ou hipótese é tão limitada quanto uma pesquisa cientifica desvinculada de visão ou hipótese cientifica.

Explorando o “chão/estado relativo da consciência.

1) Tradição Mahayana: A meditação “Colocar a mente em seu estado natural” (Vipassana) realiza a natureza relativa da mente. O 1º Panche Lama chama de meditação do estado convencional da mente. “Muitos contemplativos tibetanos confundem essa realização com a realização final e última.”

2) Theravada e Indo-Tibetanos: Concordam que essa prática leva ao estado básico da psique.
3) Bhavanga – estado e condição básico da mente: “O chão do vir a ser”. Sustenta todas as outras experiências sensoriais, mentais, emocionais.

4) Estado de vácuo/vazio. Não é percebido quando acordados. Manifesta-se em sono sem sonhos e no momento da morte. Sua presença é perene, mesmo quando a mente está obscurecida.

5) Todos os processos mentais e sensoriais emergem de bhavanga (Na visão materialista, eles emergem do cérebro).

6) Contemplativos do Theravada: Bhavanga é uma fase intermitente da consciência, não um substrato sempre presente.

7) Comtemplativos do Dzogchen: Interpretam Bhavanga de outro modo. Uma série de momentos que chegam e passam (portanto não é permanente), condicionado por muitas influencias (então não é independente). Onda contínua de consciência onde todo processo cognitivo mundano aterrisa.

8) Na morte e no sono, temos bhavanga, mas a consciência está adormecida. Com shamatha, estamos conscientes quando bhavanga acontece. “Como reflexos de planetas numa piscina de águas límpidas, assim o mundo fenomenológico inteiro aparece dentro desse vazio e claro substrato de consciência.

9) Bhavanga é a base da consciência individual. É o mais baxo estado de atividade, com o maior grau de liberdade possível. Evacua a mente no shamatha.

10) Bhavanga faz acessar tremenda criatividade.

11) Três atributos de Bhavanga: “Bliss” (Sagrado), luminosidade, e não conceitualidade. Por isso, as vezes é confundido com Nirvana. Apenas Bhavanga não libera a mente de suas tendências aflitas e o resultante sofrimento.

12) Conclusão: Nesse ponto, temos habilidade de acompanhar todo tipo de processo mental sem distração e sem esforço. Apego, raiva e ilusão, conseguimos observá-los sem sermos tragados. Esses aspectos não desequilibram mais sua mente. Eles não são experimentados mais como aflições mentais, e você pode agora começar a explorar sua natureza mais essencial. Segue descrição mais detalhada. 123/124.


Os Estágios Avançados: Consciência Iluminada.

Introdução.

1) A prática ininterrupta de shamatha, eventualmente alcança o oitavo estágio, a “atenção em um único ponto”. Você já teve lapsos desse estado antes, mas agora ele se torna normal. Para onde quer que você direcione sua atençao, ela se foca com alta clareza e precisão.

2) É capaz de sustentar um alto nível de Samadhi.

3) Desse ponto para frente, a prática flui sem esforço, sem letargia ou excitação sutil por pelo menos tres horas seguidas.

4) Apenas um pequeno esforço é necessário para se colocar na posição da prática e remover os obstáculos, e você é levado a praticar pelo poder do entusiasmo.

5) Pela primeira vez, o fluxo de atenção procede sem nehuma interrupção de letargia ou excitação. A qualidade de Samadhi é (stillness) a imobilidade.

6) Como nos estágios anteriores, o fluxo de pensamento permanence como um rio fluindo lentamente para o vale, e a mente permanence calma como um oceano imóvel e sem ondas.

7) Daqui para frente, dois caminhos: Continuar com a prática de “Fixar a mentee m seu estado natural” ou escolher um caminho ainda mais potente: “Shamatha sem objeto”. (Padmasambhava).

8) Nas duas práticas anteriores, a atenção era direcionada para um objeto outro que si mesmo, e a estabilidade e a vivacidade eram cultivadas em relação aquele objeto.

9) Nessa técnica, a atençao não é direcionada a nada. Ela descansa em sua própria natureza, apenas eestando consciente de sua presence. É como a mente ter a si mesmo como objeto. Mas na prática, é como não escolher nenhum objeto. Apenas deixar sua consciencia descansar, sem nehnum referente, em sua própria e inata luz e cognição. É um efetivo metodo de iluminar a natureza da consciencia em si.

10) Descartes: Penso, logo existo.

11) Shamatha: Pensamentos ocorrem, mas não significa necessariamente que aja uma entidade separada chamada eu. Há momentos em que pensamentos estão ausentes. Mas ainda há a presence de algo ali.

12) Estar consciente de se estar consciente.

A prática: Consciencia da consciencia.

1) Inicie com a prática “fixar a mente em seu estado natural”.

2) Então, apenas fique atento ao fato de estar consciente.

3) Sua mente não precisa estar vazia ou silenciosa. Você pode saber, com certeza absoluta, que a consciencia está presente.

4) Com nenhum outro objeto oresente, você pode cultivar estabilidade e vividez atencional com sua consciencia, ou atenção.

5) Descrição de Padmasambhava: “Enquanto observa o espaço na sua frente, sem meditar ou fazer mais nada, concentre sua consciencia sem nodular/oscilar, no espaço na sua frente. Aumente a estabilidade da atenção e relaxe novamente. Ocasionalmente, indague-se: O que é esta consciencia que está se concentrando? Então concentre-se de novo, e cheque novamente. Faça isso alternadamente. Mesmo se houver letargia, mantenha o olhar para baixo, gentilmente liberte sua mente, e sem ter nada sobre o qual meditar, gentilamente liberte tanto seu corpo quanto sua mentee m seu estado natural. Não tendo nada sobre o qual meditar, e sem nehnuma modificação ou adulteração, descanse sua atenção sem oscilar, em seu estado natural , sua clareza natural, seu caráter como é. Permaneça nesse estado de luminosidade, e então descanse sua mente de modo que ela fique perdida(loose) e livre. Alterne entre observer entre aquele que está se concentrando internamente e aquele que está liberando/relaxando. Se você pensar: “É a mente”. pergunte: Quem ou que é esse que está liberando a mente e concentrando a mente?”. Observe –se novamente e libere de novo. Ao fazer isso uma fina estabilidade irá aterrizar, e você poderá inclusive identificar uma consciencia sagrada/pura/imaculada (pristine). Se você se tornar confuse/vago ou inatento, você deslizou para a letargia. Clereieesse problema, eergua sua consciencia e mude seu foco/olhar (gaze). Se você ficar distraído ou excitado, é importante que você diminua seu foco/olhar e relaxe/liberte sua consciencia. Se Shamadhi chegar, não há nada disso que você pode dizer: “Isto é meditação, ou isso é conceitualização, você está indo para um stupor, então medite com concentração alternada e libere, e reconheça quem está meditando. Ao fazer isso, reconheça os defeitos/imperfeições de shamatha, e elimine-os imediatamente.”

Reflexões sobre a prática.

1) Como estamos propoondo questões e investigando a natureza de nossa experiencia, podemos ver essa prática como Vipashyana, ou “insight practice”.

2) Longa discussão sobre a origem da volição. Abordagem dos cogniivistas, neurobiologistas e budistas. Onde é a sede da volição? No cérebro? Na mente? O autor nos lembra que os budistas investigam a consciencia do “ponto de vista de dentro”.

3) Dois tipos de consciencia: Pura/sagrada (pristine) e individual (substrate consciousness).

4) Pristine awareness: (Rigpa em tibetano, vidya em sanscrito). É a base absoluta da consciencia. Consciencia primordial (jnana). A conquista dessa base é central na prática do Dzogchen. Transcende todas as dualidades, entre espaço interno e externo. É desse lugar que emerge todos os fenomenos do mundo manifesto. Transcende mente e material, palavras e conceitos. Realiza a unidade intrisceca e o espaço absolute da consciencia primordial.

5) Enquanto o vácuo relative do substrato pode ser alcançado com a prática de shamatha, o vácuo absolute é normalmente realizado apenas através do cultivo de “vipashyana”.

6) A grande perfeição: A unidade do espaço absolute e da consciencia primordial. Também chamado de “sabor único” (one taste).

7) A consciencia substrato (alcançada com a prática anterior) pode ser chamada de relativa ou falso estado vacuo de consciencia, pois é diferente do substrato ao qual se refere. É alcançada quando a mente se retira do mundo externo, e está limitada pelo tempo e pela causalidade, especifica de um dado individuo. Embora tenha uma vacuidade, tem também uma estrutura interna.

8) A unidade do espaço absolute e da consciencia primordial, por outro lado, é o absolute, o vácuo. Embora este estado final também contenha as qualidades de sagrado (bliss), luminosidade e não-conceitualidade, estes não estão presentes como atributos distintos (como é na consciencia – substrato).

9) Quando alcançamos a consciencia-substrato ao alcançar shamatha, as aflições mentais são apenas temporariamente suprimidas. Como resultado da realização da consciencia primordial, é dito que toda aflição e obscurantismos são eliminados para sempre.

10) A benção (bliss) que é experimentada quando descansamos na base relativa da consciencia – substrato é limitada e transitória. Por outro lado, a benção experimentadana realização da consciencia primordial é ilimitada e eternal.

11) Ao conquistar a consciencia - substrato, você realiza a natureza relativa da consciencia individual. Na relaização da consciencia primordial, a tamanho/alcance da consciencia se torna ilimitado.

12) A criatividade também funciona da mesma maneira. Encontra limites na consciencia – substrato, e não tem fronteiras na consciencia primordial.



Estágio nove – Atenção balanceada.

Introdução

1) Com uma pequena quantidade de esforço, seguimos do estágio oito para o estágio nove. Você é capaz de manter um alto grau de shamadhi sem esforço por pelo menos quatro horas. Com pouco esforço, você entra em shamadhi totalmente livre de letargia ou excitação.

2) Não significa que a mente está totalmente e irreversivelmente livre de imbalances. Se a prática parar por alguma razão, os imbalanços voltarão. Mas se você continuar com seu estilo de vida contemplativo, os ganhos serão para toda a vida.

3) Para se alcançar esse ponto, serão certamente necesssários meses ou anos de prática em tempo integral. Você nunca alcançará esse ponto com uma prática cheia de pausas. Para alcançar os últimos estágios de Shamatha, só com um longo e permanente engajamento na prática sem interrupção.

4) Meditadores que alcançaram o estágio nove o descrevem como “perfeição”. A mente alcança um estágio ainda mais profundo de relaxamento e serenidade. Mas não se iluda, você ainda não chegou a shamatha. Mas está quase lá.

Prática – Atenção sem objeto. Instruções de Padmasambhava:

1) Direcione seus olhos para o espaço na sua frente.

2) Perceba que os pensamentos pertencem ao passado, futuro e presente. Pensamentos que valem a pena, os que não valem os eticamente corretos, junto com todas as causas ligadas a eles estão completamente cortados.

3) Permita que a mente permaneça clara e vazia. Coloque – se naquele vazio e fique lá.

4) Ao fazer isso traga a quintessencia da alegria, da luminosidade e da não conceitualidade.

5) Examine se não há apego, odio, desejo, letargia ou excitação. Reconheça a diferença entre a virtude e os vicios.

Reflexões sobre a prática.

1) A area da consciencia primordial é um tema eterno de debates entre as escolas de budismo tibetano. Este debate traz implicações na prática.

2) Tradições do Dzogchen e Mahamudra (Tibetanos) – Vê a consciencia primordial (pristine) como um estado perfeito de consciencia que está já e sempre presente, mas obscurecido por aflições mentais e outras obscuridades. A natureza de Buda está implicita na consciencia humana, acreditam. Mesmo os graus mais elevados da consciencia humana são inatos. Portanto, essas qualidade não precisam ser desenvolvidas; Estão apenas esperando para serem descobertas, e a sua prática é projetada para fazer isso.

3) Ordens Geluk e Sakia do Budismo Tibetano – Vê a natureza de Buda como um potencial para alcançar a iluminação, mas a mente precisa ser desenvolvida de muitas maneiras para alcançar incomensuráveis qualidades de sabedoria, criatividade e compaixão de um Buda. Portanto, essas ordens enfatizam técnicas voltadas para desenvolver estabilidade e vividez focalizando a mente em objetos de meditação.

4) As duas linhas divergentes reconhecem o valor de ambas as praticas. Então essa distinção não deve ser vista com muita rigidez.

5) Tsongkhapa, sec. XV (Ordem Geluk): “No cultivo na mente simples e não – conceitual, sem focar em nenhum objeto, como uma deidade, resolva: Eu vou colocaar a mente sem pensar em nenhum objeto. Depois, sem deixar a atenção ficar confuse/desordenada (scattered), evite a distração.

6) Primeiro Lama Panchen (Ordem Geluk): “Seja persistente em direção ao conhecimento elevado. Cada vez que você observar a natureza de qualquer conhecimento que aterrisar, esses pensamentos se banirão por si mesmo, depois dos quais uma vacuidade emergirá. Se você observar sem flutuações a mente depois que os pensamentos se foram, verá uma clara, vivida vacuidade. Também verá nenhuma diferença entre o primeiro e o ultimo estados. Entre os meditadores isto é chamado a fusão entre a imobilidade e a dispersão”. 145.

7) Deshung Riponche (Ordem Sakia). “Medite do seguinte modo: Sente na postura correta e seja o mais natural possivel. Permaneça no presente. Sentado desse modo você verá que é natural não ser natural. Pensamentos chegarão. O ponto é não ser vitimado por esses pensamentos. Apenas deixe-os passar e descanse no aspecto simples e limpo da mente. Desse modo, eventuamente você obterá insight. Consequentemente, você desenvolverá esse insight de um modo estável, e isso o acompanhará em todas as outras atividades. Nessse ponto, a noção de vacuidade dos fenomenos estará sempre com você.”

8) O objetivo de shamatha é desenvolver a concentração, vivacidade e clareza, estabilidade de atençao. É como ter um telescópio para observação precisa da mente, incluindo a natureza própria da mente.

9) A sequencia de shamayha para vipashyana faz muito sentido: Primeiro refine seus poderes de atenção e depois o use para purificar e explorer a mente, diretamente, em primeira pessoa. 146.

10) Enfase de Buda na sequencia acima. Shantideva também, falando por toda tradição Mahayana. Kalu Rimponche concorda. Shamatha antes é fundamental!

11) Estudantes de Budismo Tibetano trazem a questão: Vale a pena terminar o treinamento em shamatha primeiro, ou podemos passar para outras práticas diretamente? (Mesma questão colocada pelo Pathwork).

12) Tendencia dos estudantes Budistas: Marginalizar Shamatha em benefício de outras práticas. Muito poucos eestudantes de budismo atingem e terminam o treinamento. Mesmo hoje, seja no Tibet ou for a dele, Segundo o Dalai Lama, é extremamente raro encontrar quem tenha atingido o treinamento completo. No Sri Lanka, a situaçao é a mesma. Foca-se quase que totalmente na prática do Vipashyana, em detrimento de Shamatha.

13) Budistas Mahayana dispensam shamatha por considerarem uma prática “Theravada”, parte de um caminho inferior. Tibetanos o dispensam em favor de práticas esotéricas. De todo modo, essas pessoas estão desqualificando as orientações do próprio Buda e de seus principais seguidores.

14) Conquistar Shamatha não significa que você conquistou o vazio, a pedra fundamental para a liberação Budista. E mesmo a conquista do vazio não significa que se conquistou a consciencia primordial (pristine).

15) Sem shamatha não é possível ter a capacidade de purificar definitivamente as tendencias aflitivas da mente. E sem Shamatha, mesmo com alguns insights sobre a consciencia primordial, é impossivel estabilizá-la definitivamente. 148.

Estágio 10 – Shamatha

Introdução.

1) Após anos de prática continua, atravessando os nove estágios, chega-se a shamatha. Caracteriza-se por experiencias que ocorrem num discreto e curto espaço de tempo.

2) Essas mudanças ocorrem nessa transição, independente do método empregado para alcançar Shamatha.

3) Cada etapa acrescenta mudanças, mas shamatha significa uma mudança radical na mente e no corpo. Como uma borboleta emergindo do casulo.

Alcançando Shamatha.

1) Sensação de peso na cabeça, como se tivesse uma mão na careca. Não é desconfortável ou dolorido; Apenas incomum.

2) Mudanças incriveis devem estar ocorrendo no cérebro/região cortical. Esse momento nunca foi monitorado cientificamente.

3) Mudança no sistema nervosa (ou rede de energia vital) está ligada a ganhar liberdade em relação às disfunções e imbalanços mentais como rigidez, severidade, dureza, rigor, obtusiddade, dificuldades (unwieldiness). Você atinge um ótimo estado de adaptabilidade, em que sua mente está em forma e em prontidão como nunca antes.

4) De um ponto de vista contemplativo, é dificil colocar a mente num estado de entusiasmo em direção a cura das aflições mentais, para atividades virtuosas.

5) Uma vez que sua mente está livre dessas disfunções, é possível colocar e focar a mente sem resistencia em qualquer atividade ou tarefa significativa. Ela agora é um instrumento aos seus servicos. Esse é o segredo para o ótimo desempenho.

6) Após a sensação no topo da cabeça, você experimenta o movimento das energies vitais em todo seu corpo, você sente como se tivesse sido preenchido com o poder de uma energia dinamica. Você está livre de disfunções físicas, e seu corpo se sente leve e vivo como nunca antes. Tanto a mente quanto o corpoestão agora imbuidos com um excepcional grau de vividez para se engajar em qualquer atividade.

7) Estas energies mentais e fisicas trazem um sentido excepcional de felicidade, que ao mesmo tempo é transitório. Aos poucos, você vai superando a turbulencia causada por essa intense alegria. Sua atenção se estabiliza de maneira clara e vivida. Você agora atingiu shamatha.

8) Padmansambhava: “Shamatha é como uma lampada de óleo imóvel no ar. Onde quer que a consciencia/atenção é colocada, ela permanence imóvel, vivida, presente, afinada, direta. Até que isso aconteça, é importante que você fixe sua mentee m seu estado natural. Se shamatha genuine, mesmo que você Aponte sua atenção, ela não é mais que um objeto de entendimento intellectual. E há perigo de você subumbir ao dogmatism. Portanto, a rota de todos os estados meditativos dependem disso: Não queira ser apresentado à consciencia primordial tão cedo. Pratique até que consiga uma ótima experiencia de estabilidade.”

9) Tradição Theravada dá uma descriçao específica de atingir Shamatha através da atençao plena à respiração (mindfulness). Inicia-se a prática focalizando nas sensações tácteis da respiração (O objeto de nossa prática preliminar). Eventualmente você muda a atenção para o “objeto adquirido” da respiração, que se torna seu objeto de meditação até atingir Shamatha. Nesse ponto, um terceiro objeto aparece espontaneamente: Ele é chamado de “contraparte do objeto da respiração”. É uma emblematica e sutil representação do elemento “Ar”. Buddhaghosa descreve: “A contraparte do objeto aparece de dentro do objeto adquirido, e é cem ou mil vezes mais purificado, como um prato de pérola mãe bem lavado, como a lua cheia saindo por detrás da nuvem, como pássaros voando contra uma nuvem de tempestade. Mas não tem nem cor nem forma. Nasce apenas da percepção daqueles que conquistaram a concentração.”

10) No Budismo, diz-se que todos os estados ordinarios de consciencia, seja acordado ou dormindo, pertencem ao reino dos desejos. Reino dominado pelos desejos sensoriais. Todos os nove estágios a caminho de Shamatha pertencem a esse dominio.

11) Apenas em Shamatha se ganha acesso ao “reino da forma”. É um reino sutil de consciencia que trancende o mundo sensorial, similar ao reino das idéias de Platão, ou o mundo arquetipico de Jung.

12) Após ganhar acesso a esse reino, sua consciencia continua a ser estruturada por conceitos sutis que vem dessa fonte mais profunda da consciencia humana.

13) Budistas Theravada discutem a variedade de “contraparte de objetos” que são percebidos uma vez que se ganha acesso ao reino da forma. Esses sinais incluem representações rarefeitas, arquetipicas de fenomenos experienciados no reino do desejo, incluindo elementos solidos, fluidos, quentes, com motilidade. As quatro cores azul, amarelo, vermelho e branco. Luz e espaço.

14) A conquista inicial de Shamatha é descrita como “preliminar” ou “acesso” para a total realização da “primeira estabilizaçao meditative (dhyana)”.

15) Buda: Alcançar a primeira estabilizaçao a pessoa pela primeira vez está temporariamente livre dos cinco tipos de obstrução (avarana) ou interferencias (nivarana) que desbalanceam a mente. Eles são:
a. Intenso desejo sensual.
b. Malícia.
c. Letargia e sonolencia.
d. Excitação e ansiedade.
e. Incerteza/dúvida.

16) Buddhaghosa: Assim que a contraparte do objeto é conquistada, as interferencias são suprimidas e a mente premanece “concentrada no acesso”.

17) Quando se ganha liberdade mental e física em relação a essas interferencias, experencia-se uma onda de felicidade que parece ser um sintoma de um nível inédito de saúde mental. Buda considera essa felicidade um catalizador na conquista de Samadhi: “Longe dos prazeres sensuais, dos estados mentais, a pessoa se atém à primeira estabilização, que é acompanhada pela examinação e investigação precisa dos imbalances. Nascida da reclusão, é alegria e felicidade. Preenche completamente o corpo com alegria e felicidade. Nascida da reclusão (seclusion) não há ninguém que não seja penetrado/afetado por isso.”

18) Com a conquista da primeira estabilização, conquistam-se cinco qualidades que se contrapoem aos imbalanços:


a. O exame dos imbalanços grosseiros se contrapõe à letargia e sonolencia.

b. A investigação precisa se contrapõe à incerteza e dúvida.

c. O bem estar físico e mental se contrapõe à malícia.

d. A felicidade (Bliss) se contrapõe à excitação e à ansiedade.

e. A atenção em um único ponto se contrapõe ao apego ou desejo sensorial.

19) A beleza disso é que os atributos ou qualidades necessarias para se superar os imbalances da mente emergem naturalmente com a estabilização da mente. Shamatha revela a profunda capacidade que nossa mente tem de curar a si mesmo!

20) A diferença entre o acesso à estabilização da mente e a conquista definitive da estabilização da mente, é que no primeiro caso ganha-se um controle relative sobre os imbalances, mas no Segundo o controle é completo.

21) Também há diferença no que concerne ao tempo de imersão em sanmadhi. No acesso à estabilização, é possível ficar até quatro horas imersas em Samadhi, enquanto que na estabilização em si é possível passar toda uma noite ou todo um dia imerso nesse estado de felicidade suprema.

22) Seu sono é espalhado/misturado com Samadhi em muitos sonhos puros.

23) Sua atenção é altamente focada também nas atividades diárias. Quando elas terminam, a atenção naturalmente retorna para seu estado recolhido de iluminação, e a adaptação mental e fisica retorna lentamente.

24) O mais importante efeito de Shamatha no periodo entre as sessões é uma liberdade relativa de pensamentos e sentimentos de sofrimento e aflição. Não é que eles não aparecem mais. Mas acontecem com menos intensidade, menos frequencia e por periodos curtos. Desde que você não perca seu balanço atencional, você está relativamente livre das cinco imperfeições - interferencias.

25) Durante as sessões, mantem-se uma extraordinária qualidade de flexibilidade e adequação, o que permite a pessoa ter um comportamento virtuoso.

26) Além de manter a forma física, não há sensações de desconforto ou indisposição física. Sua espinha se torna reta como “um pilar de ouro”, e seu corpo se sente feliz.

27) Você está agora com o controle total de sua mente.livre de tristeza ou arrependimento, e experimentando continuamente um estado de bem estar. Buda: “Aquele que alcança a primeira estabilização conquista a felicidade aqui e agora”.

A prática: descansando no vácuo luminoso.

1) A conquista de shamatha pela via da atenção plena na respiração (Mindfulness) é marcada pela aparição da contraparte do objeto, do elemento Ar. Porque os cinco fatores de estabilização ( exame do grosseiro, investigação precisa, bem estar, felicidade, atenção focada num unico ponto) ainda não estão fortes na concentração de acesso, você achará bastante difícil sustentar sua atenção nessa imagem super-sutil. Sua mente deslizará para “Bhavanga”, a base do vir a ser, em seu vacuo relative de consciencia, vazio de todos os pensamentos, imagens mentais e percepções sensoriais. Buddhaghosa compara esses momentos a uma criança que está aprendendo a ficar de pé, mas ainda cai constantemente.

2) Se você quer proseguir até além da concentração de acesso para o estado da primeira estabilização da mente, firmemente foque no objeto da contraparte até que possa manter a atenção nele por um dia ou noite inteira.

3) Se você está contente com esse nível de concentração de acesso e quer usá-lo como base para sua prática de vipashyana, ou insight contemplative, então libere o objeto de contraparte e descanse por um tempo na base do vir –a – ser.

4) É comum para os contemplativos se estabelecer na concentração de acesso. Assim que esse estado é alcançado, todo o continuum de fluxo de sua atenção pode ser focado em um unico ponto focado dentro de sua mente.

5) Nesta prática, remova sua atenção de todos os objetos e pensamentos, e permita-se permanecer num estado de tranquilidade. Se você alcançou Shamatha concentrando- se em um objeto é hora de abandoná-lo, e descansar num estado de consciencia livre das aparencias.

6) Nesse ponto, com toda sua atenção retirada das imagens físicas, e desengajada de todo pensamento discursive, você experienciará uma consciencia não dual em si mesmo. Desse modo, a natureza relativa da consciencia é diretamente percebida, ainda que intransferivel e indemonstravel.

7) Uma vez que você atingiu Shamatha, você pode entrar lá por vontade.

8) Nesse estado imerso no substrato dda consciencia, nenhum objeto aparece para a mente, ou apenas raramente como um lapso tempoario da mente unificada, para rapidamente desaparecer por si mesmo.

9) Nenhuma aparição do seu corpo ou outra coisa aparece, e você sente como se sua mente fosse indivisível com o espaço. Você sente que pode manter a mente ivre de pensamento discursivo por meses ou anos seguidos, sem a percepção da passagem do tempo.

10) É impossível a interrupção por pensamentos ou qualquer desconforto aterrisar.

11) Dudjom Lingpa: “Aos poucos pensamentos sutis vão se acalmando no espaço vazio da essencia natural de sua mente. Você vai se tornando imóvel num estado não flutuante/oscilante, em que experimenta a alegria do calor de um fogo, da claridade da aurora, e a não-conceitualidade de um oceano sem ondas.”

12) Nâo há a experiencia da passagem do tempo. Tempo requer memória, que requer conceitualização. O sentiment o é de estar /ser atemporal.

13) Você pode preparer seu corpo/mente para ser despertado e emergir da meditação com um som, despertador, etc. Quando isso ocorre, é como se seu corpo voltasse a existencia.


Reflexões sobre a prática – 162.


Quanto tempo leva?

1) Quanto tempo leva para alcançar Shamatha se você está bem preparado e bem treinado, pratica diligentemente e continuamente num ambiente propicio, com bons companeiros e com um professor qualificado e experiente?

2) Uma pessoa com ótimo potencial pode levar três meses. Uma pessoa media seis meses e uma pessoa pouco talentosa até nove meses. Isso pode ser verdade para um monge que tem treino em ética há muitos anos. No mundo modern, essa previsão parece por demais otimista.

3) Considere cinco mil horas de treino, com 50 horas semanais (7 horas por dia) por 50 semanas (Na minha conta dariam 100 semanas! Um ano são 52 semanas). Esse é o tempo necessário para se alcançar um alto nível de habilidade.

4) São dois anos meditando 7 horas por dia sem parar!

5) Para se alcançar um nível excepcionalmente alto de maestria, 10 mil horas pode ser necessário.

6) Dadas as diferenças culturais, sociais, é impossível predizer com segurança quanto tempo levaria.

7) Ao final de um retiro de um ano com Gen Lamrimpa em 1988, um meditador sentou quarto sessões de tres horas por dia. Outro sentou duas sessões de sete horas. Nenhum deles, Segundo Gen, alcançou shamatha, mas ambos fizeram muito progresso. Quando voltavam das sessões, sentiam como se o tempo não tivesse passado, e seus corpos estavam tomados com sensações de felicidade e relaxamento.

O treino triplo (threefold training) – 163.

1) O caminho Budista de liberação é formado por três práticas, que englobam o famoso caminho óctuplo:

a. Disciplina ética: Ação correta, palavra correta, vida correta.

b. Concentração: Esforço correto (exercita a mente) , atenção correta (balanceando a mente) , concentração correta ( conquista da estabilização da mente).

c. Sabedoria: Visão correta.

2) A principal proposta da disciplina ética é sustentar o cultivo da atenção focalizada, balanceando a mente, elevando-a a um mais alto patamar. Mantendo-a serena, radiante e feliz estado de consciencia. Mente autoconfiante, sem remorso, sem medo, e pura.

3) Do mesmo modo, a conquista de um grau elevado de concentração e balanço mental é necessário para se progredir no terceiro treino, da sabedoria. A concentração e a vivencia aqui ganha são necessárias para ver as coisas como realmente são.
4) Essa é a visão das tradições Indianas do Mahayana. Shantideva: “Para se alcançar Vipashayana, é preciso primeiro alcançar “Shamatha”.

5) Tsongkhapa: Quando examinamos uma tapeçaria num quarto escuro, se temos uma lamparina forte podemos ver os detalhes da peça. Se a lampada é fraca, seu brilho é baixo, a observação fica prejudicada. “Do mesmo modo, quando observamos qualquer fenômeno, traga seu poder de atenção e concentração, e assim você conseguirá ver o que está ali.”

6) A primeira razão pela qual Shamatha é necessario para alcançar a sabedoria é a superação dos cinco imbalances, na estabiliação da mente. Shamatha prove a fundaçao necessária nos ambitos fisico e mental, e o formato requerido para desenvolver totalmente o insight contemplative necessário para ver a última natureza da mente.

7) Buda: “Shamatha é o grande guerreiro que é necessáro para proteger o sábio ministro da sabedoria”. Essa profunda descoberta foi feita por Gautama Buda – 164.

8) Distinções entre a consciencia de acesso e a estabilidade meditative não foi feita por Buda, mas por praticantes Theravada.

9) Alguns meditadores Theravada clamam que a concentração momentanea apenas é necessária para que se alcance a perfeiçao de Vipashayana. Nos anos 60 houve uma série de debates entre escolasticos Theravada, com um lado argumentando sobre a necessidade de alcançar a estabilização para atingir a liberação, e outro lado argumentando que não precisa. Que a concentração memontãnea é suficiente para a prática Vipashyana de liberação total da mente.

10) Master Pa – Auk – Tawya Sayadaw: Diz com autoridade que o acesso à primeira estabilização meditativa é pre-requisito suficiente, é uma base suficiente em samadhi para o perfeito cultivo do insight contemplativo. Ele diz que o acesso ao primeiro nível de estabilidade meditativa é muito raro hoje em dia.

11) Essa visão concorda com a visão dominante do Mahayana indiano, que afirma que a concentração de acesso para a primeira estabilização meditativa é o requisite minimo de Samadhi para se liberar a mente irreversivelmente das aflições mentais.

12) Essa liberação irreversivel só é possivel, Segundo tanto ao Theravada quanto ao Mahayana com a união de Shamatha e Vipashyana.

FIM.

4 comentários:

sociedadeparalela disse...

Olá André.. Gostaria de parabenizar pelo conteudo nesse post.. estou lendo o livro do B. Alan Wallace "Ciencia Contemplativa" e muita coisa que foi dita aqui se encontra la.

Acredito que a grande maioria das pessoas realmente não da muita atenção pra esses problemas psicologicos tão comuns (desequilibrios conativos, de atenção, cognitivos e emocionais) e não sabem todo o potencial de melhoria de qualidade de vida quando identificamos e trabalhamos..

Existe algum trabalho nesse sentido que voce tenha conhecimento? Alguma coisa que foque no "fortalecimento psicologico" de pessoas tidas como saudaveis (e normais)?

Parabéns pelo conteúdo!

sociedadeparalela disse...

Desculpe fazer outro comentário.. quando disse trabalho, me referia a alguma instituição ou centro.

Eu, como budista, entendo que a meditação é uma ótima solução.. mas ainda vejo uma resistencia enorme de conseguir transmitir isso pras pessoas através do budismo porque o carater religioso causa um certo pré-conceito.

Andre Barreto disse...

Olá, desculpe a demora em responder. Você tem toda a razão quando diz que nem as pessoas nem a sociedade como um todo se interessam por crescimento pessoal além de um certo nível que poderíamos chamar de neurótico - funcional. Existem muitas instituições e centros interessantes. O jeito é experimentar e achar um que você goste. Tenho estado envolvido com vários nos últimos 15 anos, como o Centro de Vivências Nazaré, o Pathwork, Shambhala e com grupos de estudos da abordagem integral de Ken Wilber., Boa sorte na sua busca!

M18 disse...

ótimo livro esta "a revolução da atenção"!!!!