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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Transformações da Consciência - Wilber por John Rowan



Transformações da Consciência de Ken Wilber por John Rowan.
Resumo de Andre Barreto.

  • Introdução. John Rowan em seu magnífico livro The Transpersonal, sem tradução para o português, oferece sua visão e descrição para o clássico livrinho Transformações da consciencia  de Ken Wilber. O primeiro livro de Wilber, O Espectro da Consciência alertou os psicólogos pela primeira vez que a consciência humana funciona como um espectro onde as várias camadas tem características e funcionamentos tão diferentes que chegam a ser contraditórios às vezes. Seu insight fundamental foi ver claramente que determinadas abordagens psicológicas eram adequadas para tratamentos apenas em determinados níveis de consciência. Cada nível, ensinava Wilber, trazia embutida também um tipo de patologia. Em Transformações da Consciência apresentado aqui por Rowan, a esse insight é aplicado uma visão desenvolvimentista ou evolucionária. Assim, cada etapa de desenvolvimento do infante apresenta um desenvolvimento em forma de fulcro. Começamos do ponto a, em fusão com nosso estado determinado de consciência. Conforme nos diferenciamos do estado em que estamos, movemo -nos pelo ponto b, e nosso sujeito vai aos poucos se desgarrando daquele nível de consciência, que começa a ser visto como objeto de percepção, e não mais está em fusão com a consciência. Há dois resultados possíveis: Uma transcendência com integração de sucesso em relação ao estado de consciência anterior que passa a ser objeto da nova consciência no ponto c ou uma dissociação - repressão, onde o novo estado se constrói sobre a repressão violenta do estado anterior no ponto d. Veja o diagrama no Link:


  • Estabelecido o novo patamar de consciência, o antigo ponto c agora se torna o novo ponto a e todo o processo se reprete agora num fulcro mais alto na escalada evolucionária de desenvolvimento. O exemplo clássico do processo de dissociação, por sua vez,  acontece na resolução do complexo de édipo, quando o estado anterior é comumente reprimido para que o novo eu ental - conceitual emerga, às custas da vivacidade e da libido. Temos, portanto, dois  tipos de patologia em cada nível ou Fulcro dado: Uma Patologia de fusão (PF) que acontece no ponto “a” e patologia de diferenciação ( PD) que acontece no ponto “b”, no processo de diferenciação. Wilber nos brinda nesse primeiro momento com nove fulcros de desenvolvimento que cobrem desde o nascimento do infante até a realização do Eu Causal ou Não  - Manifesto. Mais à frente em  sua obra, Wilber apresentaria outras versões de sua escada evolutiva, incluindo um estágio acima do Causal: O não dual, onde o mundo não manifesto se integra com o manifesto. Em Atman Project ele apresenta uma escada com 17 níveis de desenvolvimento. Vamos passar a examinar os nove fulcros de desenvolvimento com suas respectivas características e patologias. Seguem usadas as nomenclaturas apresentadas acima (Fulcro, ponto a, ponto b, PF, PD, etc). Boa Leitura. Andre Barreto - Janeiro de 2012.



  • Fulcro um. O Eu Sensorial - Físico.

  • Desafio: Mover - se para além da simbiose física com a Mãe e com o mundo físico.

    • PF: Psicose autista.
    • PD: Esquizofrenia, Psicose simbiótica, psicose depressiva.
    • Primal integration.
    • Janov: First line traumas.
    • Conceito de Psicótico normal, como neurótico normal.
    • O Cuidado posterior da mãe pode ser muito curativo. 132.
    • Primal approach, usado pelas terapias corporais.
    •  

  • Fulcro dois. O Eu fantasmagórico - Emocional.

 
  • Desafio: Aprender a distinguir entre as imagens internalizadas do self e imagens internalizadas de objetos. Emergem objetos emocionais e fantásmicos. Constantes.

  • O Fulcro completo leva 18 meses em média.

  • Diferenciação progressiva das emoções: Em vez de se sentir “bem em geral” ou “mal em geral”, o infante começa a sentir desejo, raiva, terror, grief, alegria, amor, etc.

  • A criança aprende a distinguir entre o que é seu e o que é de sua mãe; e emoções sobre si mesmo e sobre os outros.

  • Vocabulário mental de figuras e imagens que vão juntas com essas emoções.

  • O self não tem libido, ele é a libido, e libido sugere que um objeto é necessitado ou desejado.

  • Janov: Second line trauma.Basicamente emocional  e pré-linguistico.

  • PF Narcisista. A pessoa não se rende à grandiosidade e onipotência do estado de fusão. (Narcisistic personality disorder).

  • PD. Borderline: Uma auto-imagem separada começa a emergir, mas é tão tênue ou fraca que teme constantemente o engolfamento pelo outro ou o abandono pelo outro.

  • Para o Borderline, a opinião dos outros é totalmente importante, fazendo-a uma pessoa totalmente boa ou totalmente má alternadamente.

  • Terapia: Construção de estrutura. Nós (terapeutas) temos que sustentar o paciente até que ele/ela possa desenvolver um “eu” capaz de ter neurose, repressão e resistência. Temos que ajudar o individuo a se regenerar e completar o processo de separação/individuação (transferência self-objeto a que Kohut se referia).

  • Entender as duas defesas principais contra o processo de separação/individuação: Identificação projetiva e “spliting”.

  • Primal: Second line traumas: Trazer a tona os modos em que o relacionamento diádico deu errado, para a pessoa ser encorajada a seguir em frente.


  • Fulcro três. O Eu da mente representativa.

  • Desafio: Aqui a criança está desenvolvendo simbolos e conceitos que Piaget chamava de estágio pré - operacional. Vencer o estágio significa resolver bem o complexo de Édipo de forma a alcançar o estágio neurótico.

  • A criança passa da auto-imagem ao auto - conceito.

  • Não consegue ter a perspectiva do outro (Wilber aparentemente não viu o trabalho de Donaldson).

  • Onde aparecem as neuroses.

  • PF: Borderline neuroses. “Tanto do desenvolvimento neurótico minado por deficiências vindas de um inadequado domínio dos desafios anteriores ou uma regressão em parte para estados mais borderline, em função de problemas difíceis edipianos (Ver Blank e Blank 74 e Gedo 81)”.

  • PD: Psiconeuroses clássicas do período edipiano – (Ver literatura psicanalítica e Projeto Atman). Principal defesa: Repressão.

  • Estrutura triádica. (Mãe/id, Criança/ego, Pai/superego). Conflito mais intrapessoal (dentro da criança). Representações internas (Complexo de mãe, complexo de pai de Jung).

  • Técnicas de revelação. Integração da sombra - Psicanálise, Gestalt, etc.

  • Rowan sugere primal integration/ Third line traumas.

  • Fulcro quatro. O Eu Regra - Papel.

  • Desafio: Criar uma mente que não apenas imite uma regra, mas que efetivamente assuma a perspectiva de outros. Toda uma dimensão nova de relações de objeto, novo senso do eu e novas demandas sociais e expectativas.

  • Patologia do script: Análise transacional, teóricos da comunicação que lidam com famílias.

  • Defesa principal: Transação dupla: Comunica uma mensagem e manda outra. Se a mensagem encoberta for mencionada, ela é negada.

  • PF : Fusão com a mente pré-operacional. Não consegue entender o papel do outro, ou assumir papéis sociais em várias situações. Ele tem que aprender a levar em conta o papel do outro num grau significativo, e reconhecer seus vários papéis em muitas situações. A dificuldade aqui envolve PD. O self não escolhe estes papéis. Não é capaz de introspecção ou escolha.

  • O que o self se diferenciou ( no ponto 4c) foi de sua incapacidade de assumir papéis. Ele está agora identificado (sem reflexão) com suas regras, boas ou más, e reconhece regras convencionais (objeto 4d).

  • PF: Inabilidade de seguir regras ( Eu impulsivo do Kegan?).

  • PD: Aprende regras falsas, contraditórias, inapropriadas, etc.

  • Terapia mais cognitiva que psicodinâmica.

  • Fulcro cinco. O Eu Reflexivo.

 
  • Desafio: Mover-se para um self que realmente pensa por si mesmo, capaz de enxergar por cima das quatro paredes do sistema de regras que está inserido.

  • Maslow: Adquirir auto-estima de si mesmo, e não dos outros,

  • Tipo de terapia indicada: Introspecção, pensamento socrático.

  • Wilber: Ponto 5 a: O self está indiferenciado do nível mente operacional concreta, ou seja, o self ainda não possui introspecção, pensamento hipotético-dedutivo (não consegue “as if”, ou “what if”), pluralismo, perspectiva.

  • Ao começar a se diferenciar, ele começa a submeter o sistema de regras e crenças à sua apreciação lógica, a experimentar, a botar em perspectiva (5b).

  • Ao invés de reagir de acordo com as regras convencionais, ele age em relação aos outros como indivíduos auto-reflexivos.

  • A necessidade muda de “pertencer” para “auto-estima”.

  • Como um ser auto-reflexivo e livre par escolher (5c), ele reconhece e interage com outros como ele (5d).

  • PF/PD: Falha em se diferenciar, medo da introspecção, confusão tipo “quem sou eu”, falhas na auto-estima, etc.

  • Exemplo: “Como isso parece de fora, como isso parece de dentro?”137.

  • Fulcro seis. O eu existencial.

 
  • Desafio: Funcionar a partir e uma base de visão lógica. Integrar as partes divididas da pessoa, em especial, a mente e o corpo.

  • 6a: Parar ou abortar a auto-realização. Ex: Maslow: “Se for menos do que você pode ser, será muito infeliz”.

  • 6b:Depressão existencial (angst). Percepção da real falta de significado e incerteza do mundo.

  • Wilber, para Rowan, enfatiza o lado negro da autenticidade.

  • Spinelli: Experiências de alegria e felicidade (Durante o período de incerteza existencial, praticantes de meditação experimentam estados alterados que chamou de iluminação espiritual).

  • Terapia: Análise e confrontação dos modos inautenticos do cliente.

  • Perls: Outros falam; Perls pratica.

  • Fulcro sete. O eu Psíquico.

  • O desafio é entrar no campo oculto, e envolver-se com habilidades psíquicas.

  • Ponto 7 a ou PF: Fugir do oculto por não ser capaz ou corajoso o suficiente para entrar nesse novo território.

  • Ponto 7 b ou PD: Ser exposto prematuramente a experiências aterrorizantes as quais a pessoa não está ainda preparada. Pode ser também inflação psíquica. Divisão de objetivos de vida (prática espiritual versus viver uma vida comum etc.). Noite negra da alma e pseudo-dukka.

  • Para experiências amedrontadoras, Wilber recomenda ir de encontro novamente de forma consciente. Adotar uma prática espiritual.

  • Inflação psíquica deve ser trabalhada com a técnica de Desilusão ótima.

  • Noite escura da alma é curada com Oração. Raramente a noite escura termina em suicídio.

  • Situações paracidas com psicoses, Wilber recomenda terapia Junguiana.

  • Livro “Emergência Espiritual, de S. Grof: Discute várias destas experiências do fulcro sete.

  • Fulcro oito. O eu transpessoal ou Sutil.

  • Desafio: desenvolver um novo tipo de self que pode se relacionar com as formas do Divino.

  • Este Self é alcançado através do cultivo da meditação, de práticas de cura e do desenvolvimento da intuição.

  • A idéia de um professor interior, ou Eu Superior aparece neste estágio.

  • As presenças divinas são identificadas como estando para além ou acima do Self Corpo - mente. Posteriormente o Self se desenvolverá até se integrar ao Self divino, no próximo estágio.

  • Aos poucos percebemos que as formas divinas são nossas próprias formas. Isto acontece à medida em que estabilizamos as percepções deste nível.

  • Tais percepções podem incluir Espaço infinito, iluminações audíveis, reinos de Brahma ou uma identificação intuitiva com o professor interior.

  • A falha em se mover para além do ponto a do fulcro novamente é a acomodação ou recuo e permanência no nível psíquico, mesmo com a percepção de que seria possível avançar mais no caminho (PF)

  • PF nesse caso pode se tratar do que Maslow chamou de Complexo de Jonas, e Haronian nomeou como Repressão ao Sublime.

  • Ficar preso ao ponto b do Fulcro (PD) pode tomar várias formas. Basicamente é a fratura do Self em relação às formas arquetípicas, por medo de abandonar a velha estrutura do Ego. Isto pode se manifestar como fragmentos de arquetipos surgindo na consciência dualistica.

  • Outra forma apontada por Goleman é o que chamou de Pseudo - Nirvana, onde o praticante fica iludido com as luzes e efeitos achando que já alcançou o Nirvana.
  • Outra forma é fica preso à idéia de que tudo é terrível, assustador e ser incapaz de abrir mão do nível para uma liberação maior.

  • Para Wilber, uma terapia para esse nível deve sempre envolver uma forma de questionar ou investigar as sutis contrações do ego. É preciso que o paciente veja as contrações que o impedem de seguir em frente. Em sua essencia, essas contrações envolvem o medo e inabilidade de aceitar a morte de seu antigo senso de ego e o apego aos seus antigos desejos. Não há outra saída aqui a não ser mais meditação. O único estado mais doloroso que a meditação é a falta da meditação!

  • A passagem para o nível seguinte pode envolver muitos zigue -  zagues da consciência, que pode regredir a estados mais primitivos e voltar aos mais elevados de forma rápida. O suporte de um grupo ou professor que compreenda o que está acontecendo é fundamental nesse estágio.

  • Fulcro Nove: o eu sem forma ou Causal.

  • Neste estágio nos movemos para o reino Causal, de total sensação, para além do eu Sutil, com suas formas divinas. A diferenciação deve se dar entre o Eu em total cessação e toda a forma manifestada.

  • Ficar preso ao ponto a do Fulcro significa falhar em se mover para além do Sutil por medo de entrar no vazio total, no desconhecido (PF). Neste ponto o desejo por liberação pode bloquear a própria liberação.

  • Ficar no meio do caminho, no ponto b (PD) do fulcro configura o que Wilber chama de Doença de Arthat. Um tipo de cegueira se instala, que é confundido com o Vazio descrito pelos místicos para esse estágio. Esta cegueira ainda mantém uma tensão sutil entre o mundo manifesto e o não manifesto.

  • A cura para esse estágio é preseverar no caminho da prática, movendo - se através das decepções em direção à Verdade. Para esse propósito um guia é essencial. Alguém que já atravessou o portal e pode guiá -lo através das passagens.

                                                  Fim

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